Chegamos ao fim destes primeiros sete meses do ano, cercado de idas e vindas na cena política, e é importante uma análise realista do momento e o que esperar para os próximos meses, até as eleições. Como achamos que deve transcorrer esta “corrida eleitoral”, que já se avizinha como a mais indefinida da história recente, pelo menos desde o advento da Nova República em 1985.
Nesta “seara” (política), infelizmente, o que se tem são dúvidas.
Quatro candidatos continuam na disputa, em intensas negociações sobre os apoios para a corrida eleitoral, a se iniciar a partir do dia 15 de agosto. Nesta semana tivemos as convenções partidárias e acabaram definidos alguns vices. Marina Silva, da Rede, ficou com um vice do PV, Eduardo Jorge, e Geraldo Alckmin fechou com Ana Amélia do PP do Rio Grande do Sul. Ciro Gomes e Jair Bolsonaro seguiam em tratativas.
Leia mais de Julio Hegedus Netto:
Bombas fiscais armadas para 2019
Balanços e perspectivas
Os candidatos e suas agendas
Nas pesquisas eleitorais, Jair Bolsonaro ia na frente, seguido por Ciro Gomes, Geraldo Alckmin e Marina Silva, meio que embolados, dependendo das pesquisas. Ciro Gomes e Marina Silva se mostravam meio isolados, sem muito apoio partidário, Ciro pela sua verve incontrolável, Marina pela sua excessiva falta de tato na necessidade conchavar alianças “oportunistas”.
As eleições “oficialmente” têm início agora no dia 16 e são consideradas as mais incertas desde o advento da Nova República. Muitos se apressam em comparar com à de 1989 mas é importante considerar a situação econômica atual mais confortável (a não ser pelas contas públicas), sem esquecer, no entanto, a frágil sustentabilidade política de ambos os governos (José Sarney e Michel Temer).
O fato é que será estressante a disputa eleitoral deste ano com qualquer destes quatro podendo ser eleitos. Para piorar, um fantasma cisma em rondar algumas cabeças, a possibilidade, por mecanismos casuísticos, do ex-presidente Lula disputar as eleições.
Outros fatos a chamarem atenção são a elevada rejeição dos candidatos, com Lula chegando a 54%, Jair Bolsonaro bem próximo, junto com Geraldo Alckmin e também a quantidade de votos brancos e nulos, em torno de 30%.
Enfim, ainda estamos no escuro nesta disputa. Achamos, meio que de forma arbitrária, que a chance maior é Jair Bolsonaro chegar ao segundo turno, seguido por Geraldo Alckmin, por seus apoios recentes (“Centrão”) dando a ele um tempo de TV e rádio acima de 5 minutos. Esta, por certa, será uma variável chave na campanha, além de capilaridade (ou palanques) por este País. O tempo de mídia, quanto maior, mais deve contribuir para a alavancagem do candidato. Resta saber se isso se refletirá em mais votos, em mais popularidade.
+ Roberto Motta: “A maioria dos eleitores não se vê representada pelo Congresso”
Importante, neste caso, ainda sobre 1989, relembrar o candidato do PMDB Ulysses Guimarães, o “senhor diretas”, que também tinha estes pontos positivos – alianças, grande tempo de TV e recursos financeiros -, mas conspirava contra o fato dele ter apoiado o governo Sarney, na “bacia das almas” em popularidade, mesmo fenômeno atual do PSDB, com Temer.
Já a esquerda, presa nos seus projetos salvacionistas, não consegue fugir do vício de querer sempre protagonizar. Achamos que eles tendem a ter dificuldade para decolar, até por estarem divididos, sem união e também pelo desgaste do PT nos seus treze anos no poder, além de um “ranço dogmático sobre como resolver os problemas brasileiros”. Ciro Gomes e Marina Silva, esta mais de centro-esquerda, pelo “isolacionismo”, baixa estrutura partidária, e parcos recursos, correm o risco de não chegarem ao segundo turno.
Uma possibilidade é um dos dois obter apoio do PT. Por enquanto, este partido em muito segue a “via crúsis” em manter Lula na disputa, agora mais próximo do PSB. Não dando certo os vários recursos em evolução, deve lançar um candidato como Fernando Haddad ou Jacques Wagner, ou se aliar a algum candidato da esquerda. Neste contexto, é possível que decolem. O problema é que, pelos movimentos atuais, esta aproximação deve acontecer só em meados de setembro, nas vésperas do primeiro turno, período este muito apertado.
Achamos que Lula não deve conseguir fugir da “Lei da Ficha Suja”, mas, por certo, ainda pode gerar muita instabilidade no mercado e na movimentação dos partidos pela órbita do “Lula livre” (PC do B, PSOL, PSB, PT).
Como achamos que o mercado deve responder a este cenário eleitoral incerto?
Com certeza, deve se manter volátil, mas ensaiando reações se o candidato do PSDB começar a reagir. Isso porque sua candidatura é considerada “reformista”, mais simpática à agenda atual, já tendo anunciado que a Reforma da Previdência, por exemplo, já ser discutida no início do mandato, naqueles “seis meses iniciais de lua de mel”. Por outro lado, não sendo Alckmin, muita volatilidade é esperada, até o momento que estes três outros candidatos – Marina, Ciro e Bolsonaro – consigam mostrar ao mercado que também podem se travestir de “reformistas”. Resta saber se o mercado irá embarcar nessa.
MÉDIA DOS CANDIDATOS EM PESQUISAS RECENTES