Enquanto escrevemos estas linhas não sabemos ao certo que fim levaram os apelos protelatórios do ex-presidente Lula em resistir à prisão, anunciada pelo juiz Sergio Moro. Apelou por um habeas corpus ao STJ e que não iria para a Polícia Federal de Curitiba. Mesmo assim, achamos que Lula acabará preso, já estando fora da disputa eleitoral.
Importante, também, destacar a postura do STF, mesmo com todas as pressões em contrário. Foi exemplar, aliás, a ministra Rosa Weber, mesmo contrária à tese da “prisão depois da segunda instância”, por acreditar ser necessário esgotarem todos os recursos. No entanto, pelo “espírito de colegiado”, aceitou a opinião da maioria da casa. O placar, embora apertado em 6 a 5, contra o habeas corpus, representou, também, uma trégua, sobre este debate já decidido em 2016. Não cremos, no entanto, haver espaço agora para isso, até porque se cair corre-se o risco de uma onda de habeas corpus expedidos, esvaziando a Lava-Jato. Importante também considerar que este instrumento é importante por igualar todos perante a lei. Sem ele, qualquer “crime de colarinho branco” acabará impune, pelo poder econômico da defesa, com a possibilidade dos melhores advogados.
Mas não entremos muito neste debate, por demais árduo. Nos limitemos, então, em tentar enxergar o que deve acontecer na disputa eleitoral.
Sem dúvida, Lula saindo da disputa, deve abrir espaço para outros candidatos, tanto possíveis herdeiros na esquerda, como também outros, mais ao centro e à direita.
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Pela esquerda, dúvidas surgem sobre se o PT deve lançar algum candidato ou aguardar o “amadurecimento” de algum já em disputa, neste caso, Ciro Gomes pelo PDT, Marina Silva, possivelmente pela Rede, e Joaquim Barbosa, como alternativa a ser confirmada no PSB. Outros candidatos, como Guilherme Boulos do PSOL e Manoela D’Avilla do PC do B não reúnem condições de “saírem do traço”. Pelo lado do PT, alguns candidatos seguem ventilados, sendo o mais comentando Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, mas ainda estranho para algumas lideranças do partido. Outros poderiam ser lembrados como Tasso Genro, Jacques Wagner e Patrus Ananias. Achamos, no entanto, que se Haddad não engrenar é possível que o partido opte por apoiar, dentre os candidatos de esquerda, aquele que se mostre mais competitivo. Aqui não descartamos a construção de uma frente de esquerda, com o candidato com mais chance.
Pelo centro, são variados os nomes cogitados. Muitos consideram Geraldo Alckmin, pela sua teia de alianças e por ser do PSDB, como o mais indicado, mas será ele competitivo? Esta é a dúvida que angustia a muitos do partido. Em paralelo, surgem outros nomes, como Álvaro Dias pelo Podemos, Rodrigo Maia pelo DEM, Henrique Meirelles pelo MDB, João Amoêdo pelo partido Novo, Paulo Rabello de Castro do PSC, e até Michel Temer, no aguardo do desempenho do Meirelles. Isso aconteceria num cenário em que as mudanças nos ministérios já aconteceram. Eduardo Guardia foi nomeado para a Fazenda, Dyogo Oliveira foi deslocado para o BNDES e Esteves Colnago, homem de confiança de Dyogo, para o Planejamento. A princípio, estas mudanças não devem representar alterações no curso da política econômica do governo Temer.
Estranho, no entanto, que Temer se considere “competitivo” para esta disputa eleitoral. Em pesquisa recente, do Ibope, sobre suas chances, a popularidade se manteve baixíssima, entre 4% e 5%, e a avaliação de péssimo e ruim, acima de 70%. As expectativas do governo seriam de que com a economia caminhando, o mercado de trabalho se recuperando, a inflação e o juro em patamares baixíssimos, a popularidade do presidente começaria a esboçar alguma reação. Não é isso, no entanto, que acontece. Continua totalmente refém do Congresso e sem espaço de manobra política. No mais recente acontecimento, dentro do decreto dos portos, o cerco se fechou ainda mais, com amigos próximos presos. Se Temer ingressar numa “terceira denúncia”, suas chances de sobrevivência política se tornarão quase nulas.
Voltando ao mapeamento eleitoral, ainda temos os potenciais candidatos de direita. Neste caso, segue como destaque Jair Bolsonaro, sem Lula, o candidato que lidera as pesquisas. Muitos consideram que com Lula fora, sua bandeira de luta tende a se esvaziar, visto que ele vem se movendo justamente por ser o anti-Lula. Outros acham que Bolsonaro não resiste a um debate mais acirrado, a uma exposição mais detalhada de ideias. Seu discurso parece pouco consistente, mais baseado em palavras de ordem e, como todo candidato populista, aos apelos por mais segurança e preservação de valores (família, contra o aborto, etc).
Bem, neste cipoal de candidatos, um ponto a ser definido como inegociável é a definição de uma agenda econômica mais equilibrada, simpática ao mercado e ao consenso da sociedade. As reformas estruturais parecem inadiáveis, com urgência para à da Previdência, não esquecendo também da Tributária. Estejamos atentos ainda às equipes econômicas em gestação. Pela esquerda, a maior preocupação é a tentação dos populistas de esquerda caírem no papo dos neo-desenvolvimentistas ou algo correlato, mais simpáticos ao imaginário das políticas heterodoxas.
Nomes seguem sendo comentados. Para Alckmin teríamos Pérsio Arida como formulador da agenda econômica, Bolsonaro se aproximaria de Paulo Guedes, Meirelles mantendo a equipe econômica atual, liderada por Mansueto de Almeida, João Amoêdo com Gustavo Franco, Marina com Eduardo Giannetti e por aí vai.
O fato é que esta eleição está totalmente aberta e quanto mais candidatos propositivos, assertivos, sem recaídas populistas ou promessas fáceis, melhor para o nosso processo democrático. Temos uma “chance de ouro” de retomar os trilhos de uma economia mais eficiente e menos fantasiosa e cercada de irresponsabilidades. Que os candidatos estejam à altura do momento histórico e conduzam bem esta batalha que se avizinha.