A socialista Bachelet já se converteu no maior fenômeno dessas eleições pelo que representa dentro da tradicionalmente conservadora sociedade chilena. Foram produzidas mudanças muito fortes nas atitudes dos chilenos em relação a temas como o divórcio, o aborto, as relações pré-matrimoniais, o uso de preservativos e orientações sexuais. Houve, enfim, uma mudança revolucionária e muito rápida em um país que tem sido historicamente conservador e tradicionalista. Bachelet tornou-se um símbolo desse processo. Separada, com três filhos de dois casamentos distintos e agnóstica… Bachelet dificilmente teria emergida no cenário político chileno até meados dos anos 90.” (“Folha de S.Paulo”) Não pode haver nenhuma dúvida de que o Chile avança célere nos trilhos da Grande Sociedade Aberta. O modelo econômico liberal, arquitetado pelos economistas de Chicago, produziu uma taxa média de crescimento de 6% ao ano nas duas últimas décadas, reduzindo a taxa de chilenos situados abaixo da linha de pobreza dos 50% no início dos anos 80 para os 18% atuais. A integração competitiva na ordem econômica globalizada, a austeridade fiscal, o banco central independente, o câmbio flexível, as reformas da legislação trabalhista e da previdência e a concentração de gastos públicos em funções críticas do Estado (segurança, saúde, educação) e na remoção das desigualdades sociais (foco na remoção da pobreza e na promoção da igualdade de oportunidades) criaram uma nova sociedade. As taxas de crescimento chilenas estão entre as mais altas do mundo, as políticas sociais estão entre as mais avançadas, o grau de corrupção é dos mais baixos. As alianças políticas são orgânicas: de um lado, a médica socialista Bachelet com a bandeira da solidariedade (social-democratas e democratas-cristãos) e, de outro, o empreendedor Piñera com a bandeira da eficiência (liberais democratas e conservadores). O mais importante é que nem mesmo as sucessivas vitórias da coalizão dos partidos de esquerda representaram ameaça ao modelo econômico liberal responsável pelo formidável desempenho da economia chilena. O que se discute a cada eleição é a dosagem da ação social do Estado na remoção das arestas deixadas pelo mercado. Pelo fato mesmo de a economia exibir vigorosas taxas de crescimento, o pêndulo político desloca-se para a social-democracia para acelerar a atuação dos mecanismos públicos de correção das desigualdades de oportunidades. Mas, se em algum momento o processo de criação de riqueza estiver ameaçado, o pêndulo eleitoral reconduzirá a liberal-democracia ao poder para impedir a estagnação econômica e social. Em vez de creditar o bom desempenho chileno ao discernimento de uma ditadura, e o mau desempenho brasileiro à falta de discernimento da democracia, já que em ambos os países a esquerda se reveza no poder desde a redemocratização, prefiro atribuir a diferença aos economistas de Chicago, uma das usinas de idéias das modernas democracias liberais.
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