Gosto muito das séries “The Get Down”, sobre a origem do rap, passada em 1978, e “The Deuce”, com gangsters, cafetões e prostitutas de rua no início da indústria de filmes pornô, em 1970, as duas ambientadas em Nova York em épocas selvagens, com a cidade dominada pelo crime, a desordem e a polícia corrupta. O lixo se amontoava nas ruas, os metrôs eram imundos e perigosos, táxis recusavam corridas para certas zonas, como o hoje elegante Lower East Side. Até o Central Park era perigoso.
Fui a Nova York pela primeira vez em 1967 e depois inúmeras vezes em várias épocas; morei lá nove anos, até 2000, e as séries me lembram que a metrópole hoje tão segura e civilizada já foi selvagem como o Rio de Janeiro, dominada pelo crime e a corrupção. Nas suas ruas sujas e violentas ninguém se sentia seguro.
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Nova York foi à falência em 1975, serviços públicos foram suspensos, salários atrasaram. E seguiu ladeira abaixo nos anos 80, até que o ex-procurador federal Rudolph Giuliani, famoso por ter processado e condenado chefões da máfia, se elegeu prefeito em 1993 e instituiu a política de tolerância zero. Coibiu com rigor mesmo os pequenos delitos, mas principalmente fez uma limpeza na polícia. Mais de quatro mil policiais foram demitidos, todos os comandos foram renovados sem interferência de políticos locais. Nova York já se pareceu muito com o Rio de Janeiro, até nas alianças entre os políticos e policiais corruptos.
Depois da administração Giuliani, a cidade se tornou limpa e segura, hoje seus policiais têm a confiança e o respeito da população, são selecionados com rigor e bem treinados, recebem salários dignos, são raros os casos de abusos policiais e “autos de resistência”, mais raros ainda os policiais mortos. O crime caiu 60%.
Sim, Nova York continua a capital mundial do consumo de drogas. Mas os traficantes não mandam na cidade.
Assim como a célebre recomendação de James Carville ao candidato Bill Clinton, “é a economia, estúpido”, os problemas do Rio se parecem tanto com os que Nova York viveu, e superou, que qualquer plano de salvação começa com “é a polícia, estúpido”.
Fonte: “O Globo”, 10/11/2017.
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