Escrevo aqui da Bahia, onde cerca de 1.500 secretários e diretores municipais de educação básica se reuniram para discutir desafios de financiamento e gestão da educação básica para assegurar aprendizagem. Vim lhes falar sobre estratégias para aprimorar as políticas educacionais, mas acabei sobretudo aprendendo com eles.
Impressionou-me o compromisso deles com o processo de colaboração com seus respectivos estados, na elaboração de currículos estaduais. Hoje quase todos contam com uma tradução da Base Nacional Comum Curricular para o conjunto de seus municípios, num esforço que atravessou diferentes administrações e governos de distintos partidos políticos, permitindo que possamos ter clareza do que deve ser ensinado na educação infantil e no ensino fundamental, etapas de responsabilidade da maior parte dos municípios.
Discutiu-se também o insuficiente progresso em aprendizagem, sem autoindulgência por um lado ou negativismo por outro. Sim, a cada dois anos, desde 2005, o 5º ano tem mostrado progressos importantes nas avaliações nacionais, mas o 9º, embora nas três últimas também tenha melhorado, ainda está longe de evidenciar uma aprendizagem de competências básicas minimamente satisfatórias. Isto num contexto em que, dado o advento da 4ª Revolução Industrial, apenas saber o básico não prepara ninguém para um mundo do trabalho em que a automação avança sobre a oferta de empregos.
Mas a consciência do problema por quem é encarregado de resolvê-lo é só um primeiro passo. Mais importante é o que estão fazendo para além dos currículos: formação de professores mais focada, preparação de materiais de apoio à ação dos mestres e monitoramento contínuo da aprendizagem. Usando ou não tecnologia, secretários de Educação de muitos municípios do país hoje sabem em que seus alunos estão avançando e o que ainda falta aprender.
Mais de Cláudia Costin
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Com o compartilhamento dessas informações com diretores de escolas e professores, a boa gestão da aprendizagem acaba ocorrendo, e a chance de melhoria do ainda triste cenário da educação básica pode se tornar real.
Mas ainda há muito em que melhorar: há que tornar a profissão de professor atrativa e sua formação inicial de fato preparatória para a profissão. Sem isso, o principal fator para obtenção de bons resultados de aprendizagem não fica assegurado. E, para além de boa gestão, isso depende de financiamento, que deve garantir também algo aparentemente simples, mas descuidado por alguns prefeitos: que nenhuma sala de aula fique sem um docente bem preparado e motivado. Temos um país a construir!
Fonte: Folha de São Paulo, 16/08/2019