O Brasil caminha para a eleição mais indefinida de sua história recente. Qualquer um entre seis nomes pode vencer: Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Jair Bolsonaro, Joaquim Barbosa, Marina Silva e quem quer que venha a ser o candidato do PT.
Para avaliar a força eleitoral de cada um, é preciso levar em conta pelo menos cinco fatores, que serão expostos em detalhes a seguir: desempenho nas pesquisas, tempo de televisão, alianças regionais, aceitação pelo mercado e carisma. Dos cinco, os quatro primeiros podem ser medidos de modo objetivo – e o último, subjetivo.
É possível, assim, extrair um método para enxergar o quadro eleitoral de modo mais claro do que apenas pela leitura das pesquisas. Não se trata, é bom esclarecer, de um método com pretensões definitivas, nem de probabilidade, muito menos de previsão. Outras leituras serão possíveis, até melhores. Esta é apenas uma tentativa de analisar a corrida de modo mais sofisticado.
Parte do princípio de que está em curso um jogo de soma zero. A vitória de um implica a derrota do outro. É, portanto, razoável distribuir cada fator analisado de acordo com percentuais que, por definição, somam 100. Maior força de um equivale a maior fraqueza de outro.
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Como a corrida eleitoral é dinâmica, os percentuais evoluem com o tempo. Será possível, portanto, atualizar a análise à medida que as dúvidas se dissiparem. A esta altura, o método é mais importante que o resultado final, que depende de variáveis ainda incertas ou indefinidas – a maior delas, a candidatura petista.
Cada fator deve ser avaliado individualmente. Ao final, é possível fazer uma média simples ou ponderada dos cinco. Obviamente, os índices de ponderação contribuem para favorecer este ou aquele candidato. Isso não é problema, uma vez que permite enxergar onde cada um concentra sua força. Eis como tentei estimar cada fator:
Pesquisas – Elas ainda são a forma mais importante de avaliar a preferência do eleitor. Não podem ser desprezadas. Mas não refletem toda a verdade do jogo político, sobretudo num momento em que a incerteza cerca a candidatura do partido que venceu as últimas quatro eleições e elegeu a maior bancada da Câmara.
Num cenário mais definido, o correto seria fazer uma média de todas as pesquisas registradas, ponderadas pela distância no tempo: as mais recentes com peso maior, as mais antigas com peso progressivamente menor, até se tornarem desprezíveis com o passar das semanas.
Na situação atual, apenas uma primeira aproximação, preferi levar em conta apenas os resultados da última pesquisa Datafolha, realizada entre 11 e 13 de abril. Para a candidatura petista, considerei um percentual dos votos atribuídos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no cenário em que ele aparece com os demais candidatos, de acordo com o parâmetro estabelecido na própria pesquisa: 30% dizem que votariam com certeza no candidato dele; 16% provavelmente.
É uma decisão arbitrária, cuja vantagem é reconhecer a força real do PT, provada noutras eleições, num cenário sem Lula na cédula. A opção por outro nome, embora mais correta estatisticamente, resulta em número inferior ao potencial de votos petista. Quem não estiver de acordo pode simplesmente substituir os números abaixo pelos resultados da pesquisa sem Lula, com os 2% atribuídos a seu possível substituto, Fernando Haddad. Diante da incerteza, o mais importante hoje não é o número.
Tempo de TV – Numa eleição em que dois terços dos eleitores não sabem dizer em quem votarão, ou três quartos entre os mais pobres e menos instruídos, a campanha pela TV e pelo rádio terá papel importante para conquistá-los. Os percentuais abaixo correspondem à fração que corresponde a cada um no horário eleitoral gratuito.
Como as coalizões ainda não estão definidas, adotei um critério conservador. No caso de Alckmin, não somei o tempo do DEM, que aparentemente terá candidato próprio, mas sim o do PSD, que não terá. Não atribuí o tempo do MDB a nenhum candidato. PT, PSB, PDT e PSL contam apenas com o próprio tempo. À medida que as alianças nacionais estiverem formadas, os percentuais deverão ser revistos.
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Alianças regionais – Palanques nos estados são fundamentais para angariar recursos, disseminar propaganda e aglutinar organizações como sindicatos, igrejas e movimentos da sociedade civil. Dão uma medida da força do corpo-a-corpo na campanha.
Para estimar a força dos palanques, avaliei os mais de 250 pré-candidatos a governador e senador de acordo com suas lealdades partidárias ou pessoais. Exemplo: o atual governador paulista, Márcio França, foi considerado apoiador de Alckmin, embora esteja no PSB de Joaquim Barbosa. No PMDB, o senador Renan Calheiros está com o PT, embora Romero Jucá tenda a apoiar Alckmin também.
Depois dessa análise minuciosa, caso a caso, deixando em branco os candidatos cujo apoio não está claro, chega-se a um percentual para a força de cada candidatura nas 27 unidades federativas. Se um candidato reúne quatro apoios entre dez candidatos ao governo ou ao Senado num estado, terá uma força de 40% nesse palanque estadual.
Mas isso não encerra a questão. Como a São Paulo de França tem 22,6% dos eleitores), e a Alagoas e Renan, 1,5%, ponderei os percentuais pelo eleitorado de cada estado, de acordo com os números de março do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A falta de palanques é mais sentida pelos candidatos que começaram a campanha agora, Marina e Joaquim. Esse fator também tende, portanto, a variar com o tempo e com a flutuação nas alianças regionais.
Mercado – Nas quase três décadas de eleições presidenciais democráticas no Brasil, nenhum candidato foi eleito sem fazer acenos ao mercado financeiro. A aprovação da elite econômica, embora sozinha não eleja ninguém, é essencial para conferir consistência às candidaturas.
A maior prova disso foi a busca do candidato Jair Bolsonaro por um economista de orientação liberal para elaborar seu programa de governo, como Lula fizera em 2002, com sua célebre Carta aos Brasileiros.
Para avaliar a inclinação do mercado, usei a pesquisa realizada pela XP Investimentos com 188 instituições financeiras divulgada no último dia 13 de abril. Questionados sobre o nome do vencedor, os gestores na verdade revelam uma preferência pessoal que serve como aproximação razoável da preferência do mercado. Outras medidas seriam possíveis.
Carisma – Este é o único fator subjetivo, cuja escolha foi arbitrária, embora não descabida. Atribuí ao PT (galvanizado em torno da prisão de Lula) e a Bolsonaro a mesma quantidade de carisma (25%), seguidos em ordem decrescente de Joaquim Barbosa, Ciro, Marina e Alckmin.
Numa análise puramente objetiva, o carisma seria um fator absorvido pelos demais. Mas o Brasil é pródigo em candidatos que conseguem aglutinar as multidões para vencer, até na última hora, como fez Doria em São Paulo em 2016. Nesta análise, o carisma representa o imponderável, o espírito do tempo. Impossível desprezar.
Depois de avaliar cada fator, apresento uma média simples (supondo que todos tenham peso igual) e uma ponderada, atribuindo os seguintes pesos a cada um: Pesquisas (5); Tempo de TV (3); Carisma (3); Palanques (2); Mercado (2). A corrida se mostra apertada: três candidaturas consolidadas (PT, Alckmin e Bolsonaro), duas sem relevo (Ciro e Marina) e uma emergindo (Joaquim). O destino das alianças regionais petistas numa disputa sem Lula pode redefinir o quadro.
Os números a seguir são apenas uma primeira aproximação. Deverão ser revistos ao longo do tempo, à medida que os contornos da corrida estiverem mais claros e que informações melhores estiverem disponíveis. Sinta-se à vontade para discordar e fazer a conta com pesos mais adequados às suas preferências.
Fonte: “G1”, 23/04/2018