Muitos têm acompanhado com interesse os debates eleitorais para governador ou presidente. Dependendo da visão de mundo do espectador, há temores pela frente e não é irrelevante o que os candidatos falam, afinal muito do que ocorrerá nos próximos anos dependerá da escolha que fizermos.
O Brasil não é um país com instituições suficientemente sólidas para sobreviver bem a um mau governante. É importante, neste sentido, saber o que eles propõem para cada política pública e qual a sua visão para o futuro do país.
O problema surge quando há uma forte insatisfação com problemas como corrupção ou falta de segurança pública e se busca algo totalmente novo —que possa sinalizar uma nova ordem de coisas— ou o retorno a um passado percebido como dourado.
Neste último caso, tende-se a esquecer que soluções aparentemente promissoras, como a campanha de Jânio Quadros (a vassoura que vai limpar a corrupção do Brasil) ou a de Collor (o caçador de marajás), revelaram-se um equívoco ao tentar reduzir os problemas a seus sintomas e ao colocar na Presidência pessoas despreparadas ou não desejosas de entregar a solução prometida.
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Há uma visão mágica subjacente nesse tipo de análise: basta querer e vir com uma solução prática e simples que problemas complexos se resolvem. As redes sociais estão repletas de propostas desse tipo, exemplo: “Melhorar a qualidade da educação? Basta voltar a ensinar educação moral e cívica, é tão difícil assim voltar a oferecer a disciplina?”.
Independentemente da ideia, não é a introdução de mais uma disciplina, por mais meritória que pareça ao internauta, que vai resolver sozinha os complexos problemas da educação no Brasil.
Mas há outras propostas aparentemente mais charmosas que também parecem balas de prata, como o uso da tecnologia e da educação a distância para substituir o professor nas escolas.
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Sou adepta de maior uso de computadores e de personalização do ensino, mas ainda não inventaram nada melhor que o professor, desde que bem formado e apoiado (inclusive por computadores) para assegurar que alunos desenvolvam, da educação infantil ao final do ensino médio, tanto competências cognitivas como socioemocionais.
Outra bala de prata é a ideia de acabar com as escolas públicas e substitui-las por vouchers para escolas privadas. Num país em que 81,7% dos alunos estão na rede pública, isso seria irreal e indesejável.
O verdadeiro desafio é o difícil mas importante trabalho que fizeram países que contam com bons sistemas educacionais: investir na melhora da educação oferecida em todas as unidades escolares, especialmente as públicas. E tudo começa com a Base.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 31/08/2018