A série especial de reportagens sobre os desafios do Brasil para alcançar o desenvolvimento sustentável, a estabilidade política e o bem-estar social pós-impeachment, virou livro. A Reconstrução do Brasil foi lançado pelo jornal O Estado de S.Paulo na terça-feira, dia 19 – o e-book estará disponível a partir de outubro. A obra reúne as 15 reportagens produzidas pelo jornalista José Fucs, repórter especial do jornal, e os dez editoriais correlatos publicados entre setembro de 2016 e janeiro deste ano.
Cada tema apresentado ao leitor ao longo da série, como reforma da Previdência, ajuste fiscal, cerco à corrupção, desestatização e novo pacto federativo, traz soluções propostas por especialistas da área – Fucs fez mais de 50 entrevistas. A lista reúne nomes de peso, como ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (autor do prefácio); o economista Antonio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura; os juristas Célio Borja e Nelson Jobim, ambos ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF); e o cientista politico Luiz Felipe d’Avila, presidente do Centro de Liderança Política.
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A vitalidade do jornalismo
O texto, agradável e elegante, é um magnífico waze jornalístico. Contorna os engarrafamentos provocados pela superficialidade informativa, evita a crescente poluição causada pela praga das fake news – cerca de 12 milhões de pessoas difundem notícias falsas sobre política no Brasil, de acordo com levantamento do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (Gpopai) da Universidade de São Paulo (USP) –, ajuda o leitor a contextualizar e a separar informação verdadeira do lixo declaratório.
O livro mostra a importância do jornalismo para a construção da democracia. Na verdade, não há um único assunto relevante que não tenha nascido numa pauta do jornalismo de qualidade. Os temas das nossas conversas são, frequentemente, determinados pelo noticiário e pela opinião dos jornais. A imprensa é, de fato, o oxigênio da sociedade. As redes sociais reverberam, multiplicam, agitam. Mas o pontapé inicial é sempre das empresas de conteúdo independentes. Sem elas a democracia não funciona.
O jornalismo não é antinada. Mas também não é neutro. É um espaço de contraponto. Seu compromisso não está vinculado aos ventos passageiros da política e dos partidarismos. Sua agenda é, ou deveria ser, determinada por valores perenes: liberdade, dignidade humana, respeito às minorias, promoção da livre iniciativa, abertura ao contraditório. Por isso os jornais são fustigados pelos que desenham projetos autoritários de poder. O jornalismo sustenta a democracia não com engajamentos espúrios, mas com a força informativa da reportagem e com o farol de uma opinião firme, mas equilibrada e magnânima.
O bom jornalista ilumina a cena, o repórter manipulador constrói a história. A apuração de mentira representa uma das mais graves agressões à ética e à qualidade informativa. Matérias previamente decididas em ambientes sectários buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro lado não é honesta, não se apoia na busca da verdade, mas num artifício que transmite uma máscara de isenção, uma ficção de imparcialidade. O assalto à verdade culmina com uma estratégia exemplar: repercussão seletiva. O pluralismo de fachada convoca pretensos especialistas para declarar o que o repórter quer ouvir. Mata-se a notícia. Cria-se a versão.
A revalorização da reportagem, pautas próprias e o revigoramento do jornalismo analítico devem estar entre as prioridades estratégicas. É preciso atiçar o leitor com matérias que rompam a monotonia do jornalismo de registro. Menos aspas e mais apuração. Menos Brasília e mais país real. O leitor quer menos show político e mais informação de qualidade. A Reconstrução do Brasil é um excelente roteiro para entender os desafios e as contradições do país. O Brasil do Estado ineficiente e da corrupção desenfreada está na berlinda. Como diz Fucs, precisamos construir o Brasil que “valoriza a meritocracia, o esforço individual e o sucesso alcançado sem pixulecos nem favores oficiais”. Vale a leitura.
Fonte: “Gazeta do Povo”, 24/09/2017
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