No último dia 6, dirigentes da Confederação Brasileira de Basquetebol, em audiência pública na comissão da Câmara dos Deputados sobre patrocínio estatal ao esporte, pediram socorro financeiro ao Estado para solucionar a grave crise gerada pelas péssimas gestões anteriores e que culminou com a suspensão do Brasil, em 2016, da Federação Internacional de Basquete. O pleito da atual direção da CBB, cujo mandato começou em março de 2017 – mas que até hoje não se mostrou capaz de conseguir patrocínio privado para a modalidade –, é apoiado por ex-atletas como Oscar Schmidt, o “Mão Santa”, que se queixou do abandono a que teria sido relegado o basquete pelo mecenato praticado pelas empresas do governo à custa de seus acionistas e de todos os que pagam impostos. Cabe, então, perguntar: é correto que o Estado apoie financeiramente o esporte, em detrimento de outras prioridades para o uso do dinheiro que nos extrai?
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Estatais costumam esbanjar generosidade com nossos chapéus, pois são comandadas por políticos, que são agentes humanos em busca de interesses pessoais. Entre 2012 e 2016, somente em sete dessas empresas, a farra assomou a R$ 1,86 bilhão: da Caixa saíram R$ 730 milhões (mais da metade para o futebol); dos Correios, R$ 465,2 milhões; do Banco do Brasil, R$ 463,43 milhões; da Petrobras, R$ 77,9 milhões; do BNDES, R$ 65,1 milhões; da Eletrobras, R$ 47,15 milhões; e da Infraero, R$ 11,25 milhões. Essas companhias – assim como o Banco da Amazônia, o Banco do Nordeste, a Cobra Tecnologia (do BB), a Chesf e a Eletrosul – foram compelidas, com o argumento de que “o Brasil” precisava ganhar mais medalhas olímpicas, a patrocinar diversos esportes com vistas aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em contratos firmados majoritariamente com as confederações, que se tornaram responsáveis pelos aportes.
O Tribunal de Contas da União (TCU), em 2017, auditando os contratos dessas empresas, apontou para diversas irregularidades. Com a denúncia daquele órgão e com a crise financeira do Estado e de suas empresas, a fonte secou e a politicagem fantasiada de investimento esportivo deixou seus conhecidos lastros: migalhas de medalhas e barbaridades de anormalidades.
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A inacreditável “Autoridade Pública Olímpica”, subordinada ao inconcebível Ministério dos Esportes, dispunha de 329 cargos, pagos por todos os cidadãos. Um indicativo de tendência ditatorial, pois ditadores sempre gostam de se intrometer no esporte – sejam europeus, como Hitler, Stalin, seus sucessores e Mussolini; brasileiros, como Getúlio; latino-americanos, como Fidel; africanos, como Idi Amin (de Uganda) e Mbasogo (da Guiné Equatorial); ou asiáticos, como os vários líderes chineses e Kim Jong Un, o gordinho malvado. Para essa abominável turma, o esporte deve ser tratado como política de Estado.
Mesmo supondo, ingenuamente, que em todo esse enredo não tenham ocorrido episódios de corrupção, cabem boas perguntas. Será correto o Estado empregar recursos – que são sempre escassos – no esporte, usando meios que nos são extraídos compulsoriamente para esse fim, enquanto hospitais acumulam filas? É moralmente aceitável, por mais que se reconheçam os benefícios do esporte, impor aportes para federações e clubes, com isso preterindo professores, médicos, policiais, garis etc. e mantendo nossa infraestrutura de transportes de quinta categoria e os cidadãos de bem engaiolados em suas casas enquanto a bandidagem domina as ruas? Os políticos insistem em fingir desconhecer que escolhas significam também renúncias.
Fonte: “Gazeta do Povo”, 18/06/2018