A pesquisa Datafolha divulgada ontem permite concluir que, enfim, o eleitor brasileiro começou a definir seu voto. Desde junho, houve queda de 69% para 55% entre aqueles que não levantam nenhum nome na pesquisa espontânea.
A estratégia petista de registrar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da SIva tem surtido efeito. As menções espontâneas ao nome de Lula cresceram de 10% para 20% dos eleitores, enquanto as de seu principal rival, Jair Bolsonaro, permaneceram estáveis na casa dos 10%, como mostra o gráfico abaixo:
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Bolsonaro continua o favorito no cenário mais provável, em que o candidato petista é o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad. O Datafolha sugere que ambos passariam ao segundo turno e ele venceria Haddad por 38% a 29%. Mas Haddad seria o único candidato que derrotaria no segundo turno. Sua taxa de rejeição cresceu a ponto de ser a maior entre todos os candidatos, enquanto a rejeição a Lula continua a cair, como se vê no gráfico:
A maior dificuldade de Bolsonaro é crescer entre os eleitores mais pobres, com menor grau de instrução (há no Brasil uma relação entre as duas variáveis, e a análise de nível educacional é estatisticamente mais robusta, como já expliquei) . O Dafafolha confirma os resultados do Ibope, demonstrando que ele começou a ganhar espaço nesses estratos mais baixos da sociedade.
Os gráficos a seguir foram elaborados com base no cenário da pesquisa estimulada mais provável, em que Fernando Haddad é o candidato do PT. Só foram apresentados nomes com mais de 5% na preferiencia dos eleitores. A evolução da intenção de voto por grau de instrução demonstra que o grosso do eleitorado de Bolsonaro ainda está nos níveis médio e superior:
Concentram-se na parcela com nível fundamental cerca de 23 milhões de votos, ou 56% dos 43 milhões ainda indefinidos. O crescimento de Bolsonaro nessa faixa é real, mas ainda incipiente, quando comparado ao dos demais candidatos.
Da última rodada do Datafolha, em julho, para a atual, algo como 18,6 milhões de eleitores definiram seu voto: 6,1 milhões de nível fundamental, 9,4 miilhões de nível médio e 3,1 milhões de nível superior.
Dos 5,3 milhões de votos conquistados por Bolsonaro, 26% (1,4 milhão) vieram de eleitores da faixa mais baixa, 66% (3,5 milhões) da intermediária e apenas 8% (418 mil) da superior.
Marina e Alckmin conquistaram menos votos – respectivamente, 2,5 miilhões e 3,5 milhões. Mas, proporcionalmente, avançaram mais sobre a camada inferior, onde há mais eleitores a conquistar. Dos novos votos de Alckmin, 67% (ou 2 milhões) vieram de eleitores de grau de instrução fundamental. Dos novos votos de Marina, 54% (1,4 milhão).
Embora a distribuição de votos de Bolsonaro tenha melhorado e sua campanha tenha começado a demonstrar capacidade para seduzir o eleitor mais pobre, o jogo não está ganho para ele. Persiste a distorção visível na distribuição de seus votos, como mostra a tabela:
Bolsonaro enfrenta um paradoxo na disputa pelos eleitores de menor renda e grau de instrução, parcela que concentra o grosso daqueles que manifestam intenção de votar em Lula, ainda desconhecem outra candidatura ou têm, segundo o Datafolha, preferido Alckmin ou Marina.
No primeiro turno, confirmada a dificuldade apontada na pesquisa, é até melhor para Bolsonaro que eles sigam a instrução que um dia virá de Lula e votem em Haddad do que continuem a preferir Alckmin ou Marina – já que ambos o derrotariam numa eventual segunda rodada. No segundo turno, ao contrário, Bolsonaro precisará do voto de todos contra Haddad. Não é uma questão lá muito fácil de resolver.
Fonte: “G1”, 23/08/2018