Políticas de educação normalmente são pensadas por educadores e consideradas pelos políticos como políticas sociais. Raramente os economistas e responsáveis pelas decisões macroeconômicas se lembram de que a educação tem dois grandes objetivos: promover o desenvolvimento das pessoas e prepará-las para contribuir produtivamente para o desenvolvimento do país.
Em países desenvolvidos, é normal, de tempos em tempos, que alguns choques externos mobilizem a sociedade e o governo para rever as políticas educacionais. Nos Estados Unidos, por exemplo, o lançamento do Sputnik pela União Soviética, na década de 50, mobilizou o país em torno de questões de educação, ciência e tecnologia. Aos primeiros indícios da revolução provocada pela automação industrial, os norte-americanos produziram o relatório “A Nation at Risk”, que teve impacto não apenas lá, como serviu de impulso para reformas educativas em vários outros países. De certa forma, o Pisa é fruto desses movimentos que levaram os países industrializados a reverem suas políticas educativas face aos resultados comparativos desfavoráveis em relação a economias com as quais competem. Nas últimas décadas, vem sendo travado um vigoroso debate a respeito das relações entre educação e produtividade, e da contribuição da educação para o crescimento do PIB.
+ João Batista Oliveira: Primeiro post da série “Os presidenciáveis e a educação”
Ainda que não exista um consenso a respeito do tema, tudo indica que a educação e a forma como ela é implementada têm muito a ver com o desenvolvimento do país. A economia mais criativa e dinâmica do mundo – os Estados Unidos – tem um sistema primoroso de ensino superior. Já na mais vigorosa economia europeia, a Alemanha, a joia da coroa é o ensino médio profissional.
É possível que uma das razões pelas quais a educação não avança, no Brasil, é o fato de ela ficar confinada aos educadores e, em particular, a grupos de interesses corporativistas que acabam direcionando a agenda. Ao assumir o governo, a equipe do Ministro Mendonça Filho chegou a denunciar publicamente o “aparelhamento” em que se encontrava o Ministério da Educação. Mas corporativismo, aparelhamento e clientelismo continuam a agir com a mesma desenvoltura de sempre.
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A eleição que se aproxima cria oportunidade para um debate com os candidatos: a educação será tratada como uma questão setorial ou será algo central na definição das políticas de desenvolvimento econômico, produtividade e competitividade? Os conselhos e órgãos deliberativos continuarão circunscritos às visões limitadas dos interesses corporativos? As decisões sobre investimentos em educação continuarão a considerar o setor como parte de políticas sociais ou estarão no centro de decisões sobre os grandes rumos do país?
SE O SEU CANDIDATO NÃO SABE COMO MUDAR A EDUCAÇÃO, MUDE DE CANDIDATO!
Fonte: “Veja”, 10/06/2018