O resultado eleitoral deste domingo deixou um recado muito claro para os políticos: o eleitor cansou. Isto tem íntima relação com o momento que estamos vivendo, de reorganização do tecido político com o fim da Nova República. As velhas práticas e estratégias não funcionam mais, assim como os nomes tradicionais e antigas alianças.
O recado começou a ser dado nas manifestações de 2013 e foi crescendo na medida que os políticos testavam a paciência do eleitor. Veio o impeachment e logo depois as eleições municipais e um grande recado. A população queria administradores novos aos invés de políticos tarimbados. Dois fenômenos explicaram isso: a ascensão de João Doria em São Paulo e especialmente a escolha de Alexandre Kalil para governar Belo Horizonte.
Aqueles que não entenderam o recado das ruas, sucumbiram na noite deste domingo. A renovação profunda do Senado deixa evidente a vontade de mudança do eleitor. Nomes da política tradicional foram abatidos por novatos e outros que não possuem sequer tradição neste meio. Houve uma mudança profunda nos protagonistas e os reflexos serão sentidos em breve.
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A votação expressiva obtida por Bolsonaro está intimamente ligada ao movimento do eleitor. Existe um movimento sólido e organizado de direita no Brasil, um grupo que busca voz e participação. O deputado apenas serviu de porta-voz da soma de insatisfações de uma parcela significativa da sociedade, somada ao sentimento geral de indignação com a classe política.
A velha política se apresentou para o jogo e o resultado foi pífio. Geraldo Alckmin teve o desempenho mais fraco de um tucano concorrendo ao Planalto. A aglutinação de forças do establishment em torno de sua candidatura mostrou uma tentativa de reação da classe política, que acabou sucumbindo diante da vontade de renovação do eleitor.
Se o antipetismo tivesse se concentrado em Bolsonaro, provavelmente a fatura seria liquidada no primeiro turno. A divisão de forças jogou o embate para o final de outubro. A tendência é que seja muito disputada e aberta, apesar do petismo ter sido fortemente abatido no primeiro turno nas eleições proporcionais e para os estados.
A fúria do eleitor teve este resultado expresso nas urnas. Em três semanas saberemos se será ampliada do Congresso para o Planalto. A conferir.
Fonte: “O Tempo”, 08/10/2018