Não existe renovação plena na política nacional. É utópico acreditar que podemos, com nossos atuais instrumentos, renovar totalmente a nossa política. Justo por isso devemos examinar o discurso e a narrativa de cada candidato que se posiciona como novo, que se diz agente da renovação nestas eleições. No quadro atual, só existe um candidato à Presidência da República de fato novo: João Amoêdo, do Partido Novo. Todos os demais — todos — integram movimentos antigos, com raízes na Nova República.
Os mais arcaicos candidatos “novos” da velha política são dois extremistas: Jair Bolsonaro (PSC) e Guilherme Boulos (PSOL). Funcionam com software arcaico. São contaminados por traços de autoritarismo e de dirigismo. Caminhando para o centro, o novo também não dá as caras. Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Manuela D’Ávila (PCdoB) e Fernando Haddad (PT) são políticos adeptos de soluções pouco criativas, dirigistas e fracassadas.
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Marina, por questões estratégicas, transita fugazmente pela modernidade econômica, mas seu âmago é assistencialista, dirigista e paternalista. Ciro, cujo ideólogo é um espírito obsessor que tenta encarnar em algum cavalo da política nacional, ampara-se no personalismo do arranco e no brizolismo que pavimentou a explosão criminal no Rio de Janeiro. Fernando Haddad tenta um figurino de esquerda moderna que, no entanto, carece tanto de substância quanto de convicção. Transita no espectro para-ideológico do bom-mocismo com pitadas amargas do pragmatismo da política tradicional.
Quanto ao centro, não há o que falar em termos de “novo”, de “renovação”. O candidato aparentemente novo, Álvaro Dias (Podemos), é, na verdade, uma figura carimbadíssima da política paranaense. Assim como, em São Paulo, temos Geraldo Alckmin (PSDB), um típico político-administrador feijão com arroz.
Fica claro que, apesar de toda a onda, o novo não se expressa de forma consistente nas atuais candidaturas ao Palácio do Planalto. Pelo simples fato de que o novo não conseguiu romper a barreira do tradicionalismo na política brasileira, seja pelas dificuldades regulamentares, seja pelo tardio acordar da sociedade em favor do novo. Portanto, corremos o risco de que este venha falsificado em políticos velhos. E o pior de tudo é o “novo” com idéias velhas. Devemos, pois, procurar o vintage.
Fonte: Revista “IstoÉ”