A disparada de Bolsonaro nas pesquisas deixou muitos partidos atônitos. Percebem que existe uma massa de descontentes que encontrou nele a voz que expressa sua indignação. A identificação do candidato com as ideias conservadoras, ocupando a direita no espectro político, também embaralha a estratégia de muitos postulantes ao Planalto.
Ninguém até o momento ousou avançar sobre o eleitorado de Bolsonaro. Assim, a tendência tem sido procurar outros caminhos que levem seus candidatos ao embate do segundo turno. Certos de que o ex-capitão é uma peça fácil de ser batida no próximo round, os partidos tradicionais têm cada vez mais buscado ocupar o espaço do centro como alternativa eleitoral.
O lançamento da pré-candidatura de Rodrigo Maia tem essa característica. O antigo PFL por décadas ocupou a centro-direita, sofrendo enormes perdas durante os anos Lula. Quando finalmente o espectro político se move para sua área de influência, o partido, rebatizado agora de Democratas, busca o caminho do centro. Evita o embate direto com Bolsonaro, porém nega suas origens. Estrategicamente, seria melhor lançar Ronaldo Caiado e dividir os votos da centro-direita. O senador por Goiás cairia como uma luva para uma parcela do eleitorado que busca uma opção que represente uma direita séria e responsável.
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O presidente da Câmara, agora pré-candidato ao Planalto pelo centro, vai começar a ombrear com outros postulantes que acreditam ser possível chegar ao segundo turno por esse caminho. O primeiro desafio de Maia será dividir espaço com Alckmin, que vai nadar na mesma raia. Por ali ainda podem passar Meirelles, Álvaro Dias e muitos outros candidatos que pretendem se viabilizar como uma espécie de Macron dos trópicos, prontos para vencer a esquerda ou Bolsonaro no segundo turno.
Falta combinar com o eleitor. No afã de chegar ao segundo turno pelo centro, o pelotão pode se embaralhar e entregar a segunda vaga para a esquerda, tornando-se real a possibilidade de uma disputa entre Bolsonaro e alguém que avance por esse flanco, como Marina, Ciro ou mesmo Haddad, impulsionado pela transferência de votos de Lula. Um erro estratégico que pode mudar os rumos do resultado da eleição.
Caberia ao centro se unir em uma candidatura, e alguém assumir o desafio de ombrear com Bolsonaro os votos da direita. Da maneira como o jogo está posto, o resultado é previsível. Até o momento, a única opção real de unir o centro, dentro de uma ampla aliança, foi pulverizada internamente pelos tucanos, que agora apostam em outro nome. Correr pelo meio pode ser uma opção se as cartas forem jogadas da maneira correta. Do jeito que está posto, as chances dessa via chegar ao segundo turno tornam-se cada vez mais difíceis, rifando uma parte do eleitorado que poderia facilmente entregar a vitória nas mãos de um centro que aos poucos se pulveriza.
Fonte: “O Tempo”, 12/03/2018