Janeiro é o mês de dois eventos infalíveis e monótonos: o Fórum (da burguesia politicamente correta) de Davos e os famigerados relatórios “estatísticos” sobre desigualdade da ONG inglesa Oxfam. Em Davos, pelo menos, se discute algo produtivo, mas os relatórios da Oxfam são realmente meras peças de propaganda ideológica. Vejam, por exemplo, esta notícia, publicada pela Revista Exame:
“O 1% mais rico do mundo tem mais do que o dobro da riqueza do resto da humanidade combinada, de acordo com a Oxfam, que pediu aos governos que adotem “políticas de combate à desigualdade”.
Em relatório publicado antes da reunião anual do Fórum Econômico Mundial de 2020, em Davos, a instituição de caridade do Reino Unido disse que os impostos cobrados de indivíduos ricos e empresas estão muito aquém do necessário, com recursos abaixo do esperado para serviços públicos.
Leia mais de João Luiz Mauad
Talvez a grande fraqueza do mercado seja a sua própria resiliência
Série Heróis da Liberdade: Lord Acton
O que você precisa saber sobre liberdade de expressão e tolerância
“A desigualdade econômica está fora de controle”, com 2.153 bilionários com mais patrimônio do que 4,6 bilhões de pessoas em 2019, segundo o estudo. “Nossas poucas economias estão enchendo os bolsos de bilionários e grandes empresas às custas de homens e mulheres comuns”, disse o presidente da Oxfam India, Amitabh Behar. “Não é de admirar que as pessoas comecem a questionar se os bilionários deveriam existir.”
E assim está aberta a temporada de caça à riqueza de quem produz e cria. O foco é a criação de um imposto sobre a riqueza e um aumento maciço nos gastos dos governos, a fim de corrigir essa desigualdade e restaurar a “justiça social”. A ONG se diz uma instituição de caridade, mas sua “caridade” é feita com o chapéu alheio, de forma coercitiva e não voluntária. Além dos aspectos morais do distributivismo, que já analisei em diversos outros artigos, o problema é que esses caçadores de milionários não entendem nada de economia, e suas propostas, se levadas a efeito, acabarão por prejudicar ainda mais àqueles a quem supostamente pretendem favorecer.
Como bem resumiu o economista Scott Winship, num artigo de 2013 publicado pela Brookings Institution, “É verdade que um exame cuidadoso das evidências não estabelece que a desigualdade seja inofensiva ou que nada tenha a ver com nossos outros problemas econômicos… Mas elas revelam pouca base para pensar que a desigualdade está na raiz de nossos desafios econômicos e, portanto, para acreditar que a redução da desigualdade abordaria significativamente nosso crescimento atrasado, permitiria maior mobilidade, evitaria crises financeiras futuras ou garantiria as instituições democráticas”.
Mas o problema, prossegue Winship, “não é simplesmente que as evidências do alegado dano da desigualdade ao crescimento sejam inconclusivas ou imprecisas. Há também evidências significativas em contrário, que colocam em dúvida as conclusões da esquerda sobre desigualdade. Trabalhos recentes de Christopher Jencks, de Harvard (com Dan Andrews e Andrew Leigh), mostram que, ao longo do século 20, nos Estados Unidos e nos países desenvolvidos, não houve relação entre mudanças na desigualdade e crescimento econômico. De fato, entre 1960 e 2000, a crescente desigualdade coincidiu com maior crescimento nesses países. Num outro trabalho, o sociólogo da Universidade do Arizona, Lane Kenworthy, também descobriu que, desde 1979, um maior crescimento na parcela de renda mantida pelo 1% superior dos assalariados tem sido associado a um crescimento econômico mais forte em vários países.”
+ Política de ajuste das contas públicas é reforçada com a PEC Emergencial
Mas falemos do imposto sobre a riqueza, objeto do desejo de quatro em cada três progressistas. Dependendo do seu design, certamente poderia prejudicar a acumulação de riqueza. No entanto, o impacto negativo do imposto sobre a riqueza não se concentraria apenas nos contribuintes desse imposto. Todo mundo, independentemente de sua renda e nível de riqueza, seria atingido. Isso porque, ao contrário do que os seus defensores acreditam, a maior parte da riqueza dos muito ricos não é utilizada no consumo supérfluo. Ao contrário: é investida em empresas; é usada para financiar pesquisa e desenvolvimento que criarão melhores bens e serviços para os consumidores; serve também como capital que inovadores e produtores tomam emprestado dos bancos para expandir seus negócios. Em outras palavras, a maior parte da riqueza é usada para alimentar outras atividades produtoras de riqueza que melhoram o bem-estar geral.
Em resumo, impostos sobre a riqueza criam um verdadeiro desincentivo para acumulação de capital, além de reduzir o volume de recursos disponíveis na economia para uso de terceiros.