É inegável que as expectativas melhoraram. E não constituem falso otimismo. Há coisas importantes acontecendo na economia real.
Os juros estão caindo. A taxa básica, a Selic, calibrada pelo Banco Central, deve chegar ao final deste ano na casa dos 5%, que será a mais baixa de era do Real. Mais do que isso, marcará um momento em que os juros brasileiros começam a se normalizar e entrar em sintonia com o mundo. Parece que ficam para trás os tempos em que o Brasil era cronicamente o campeão dos juros altos.
A inflação persistentemente baixa há anos e a previsão de que continuará assim sustentam essa perspectiva. Além da enorme capacidade ociosa e da lerdeza da recuperação, há outro fator que praticamente obriga o BC a derrubar a Selic: o andamento das reformas.
Coloquei no plural — reformas — porque a aprovação da previdenciária, robusta e com sólida votação, sugere que outras podem caminhar no Congresso, especialmente a tributária.
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A reforma da Previdência encaminha o equilíbrio das contas públicas. A simplificação dos impostos elimina um dos maiores entraves à atividade empresarial. Junto com o cenário de juros baixos, tudo isso sugere boa perspectiva de aceleração da retomada da economia.
E ainda tem a ajuda das privatizações, que avançam em ritmo até surpreendente num país com cultura tão estatizante. Ocorre que desta vez a equipe econômica é genuinamente privatizante. Isso faz diferença. Nos processos de privatização do passado, a maioria era feita por necessidade. Não havia mais como sustentar certas estatais ou tocar obras públicas, de modo que privatizar aparecia como um mal necessário.
Resultava, como especialmente nos governos Lula e Dilma, em privatizações de má vontade. Algo assim: você leva a estrada, mas não pode ter lucro com ela. Ou, você leva a empresa, mas o governo está de olho.
Diferente do que faz a equipe econômica atual, que não tem dúvidas sobre a superioridade do setor privado sobre o público nas atividades de produção e distribuição de mercadorias e serviços.
Há quanto tempo se debate sobre privatização da Petrobras e subsidiárias? Pois o governo conseguiu desestatizar a BR Distribuidora em seis meses.
Em cima disso, entra para o consumo o dinheiro liberado do FGTS.
É por isso que o risco Brasil está em queda (medido pelo CDS, Credit Default Swap) espécie de seguro contra calotes. O investidor internacional está exigindo menos juros para comprar papéis do governo brasileiro. Equivale a mais confiança no pagamento.
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E os juros no mercado futuro já caíram, indicando boas condições para investimentos e consumo.
Resumindo, estamos de novo com a expectativa de alguma retomada no segundo semestre a uma volta do crescimento para 2020.
E digo de novo porque isso já aconteceu três vezes nos últimos três anos.
O que, então, frustrou as expectativas?
Instabilidade e crises políticas.
E qual o risco hoje? A mesma coisa.
Tome-se a reforma da Previdência, aprovada no primeiro turno na Câmara dos Deputados. Faltam: um turno na Câmara e dois no Senado.
Comenta-se: do modo que foi aprovada no primeiro turno, está na cara que agora vai.
Mas o presidente Bolsonaro perdeu votos nordestinos — com a história dos paraíbas — e criou um clima arriscado no Senado com a decisão de nomear seu filho Eduardo embaixador nos EUA.
Não é que a reforma esteja perdida — continua mais provável que seja aprovada — mas no mínimo ficou um pouco mais cara.
A sorte é que o Congresso, especialmente com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, assume uma postura de maior responsabilidade com os problemas econômicos. Mas boa parte dos deputados e senadores está fazendo isso não por virtude, mas por necessidade — não querem ser responsabilizados por outra crise. Ora, se acharem um outro candidato a criador de crises — já sabem onde — os votos podem mudar.
Ou seja, o risco está no governo Bolsonaro, excluídos Guedes, Moro e o pessoal da privatização.
Fonte: “O Globo”, 25/07/2019