O predomínio da política sobre o noticiário no Brasil parece novidade, mas com base na idealização sobre o papel das instituições democráticas, sofremos com a decepção diária causada pela distância entre a expectativa da democracia e a realização da atuação limitada no governo pelos eleitos. A democracia que temos não foi programada para ser tão democrática quanto pensamos.
Esse tipo de frustração é comum no mundo. Aprendemos na escola ou pelos meios de comunicação que o funcionamento das instituições democráticas é a simples formulação das políticas públicas e competição partidária. Quando um partido coloca lemas como “tudo pelo social” e promete emprego e renda, cria-se uma ideologia e ilusão de que o governo democrático, sustentado pelo povo e empresas, pode entregar resultados sobre-humanos com o nosso dinheiro. E quando o resultado não é condizente com a expectativas dos eleitores, todos gritam que as instituições falharam.
É um debate interminável e chato. Se as instituições não importassem, não falaríamos delas nem teríamos eleições. Neste momento, entendemos que as ideologias falharam, não as instituições.
Cada um de nós valoriza diferentemente os aspectos que compõem esse emaranhado de ideias que chamamos de democracia – uns valorizam a liberdade de expressão, economia de mercado, empreendedorismo, Estado de direito, outros valorizam garantias individuais, e assim sucessivamente. Mas como os eleitos são seres humanos que estão no governo para negociar, debater e votar leis para chegar a um consenso, o ideal de democracia pela maioria e cumprimento de todas as promessas pelo social é contraditório em sua essência.
PRISCILA PEREIRA PINTO: “QUEM PAGA IMPOSTO TEM O PODER”
Usamos a palavra democracia para definir tudo hoje. Classes sociais diferentes têm acesso a carro e viagens de ponta a ponta do Brasil, então isso é democracia. Não, isso é o setor privado funcionando. Deixamos o ideal impedir o entendimento do fato de que não estamos em guerra civil, com inúmeras mortes trazidas pela discordância sobre quem deve governar.
O governo representativo, bem ou mal, consegue cumprir sua missão de evitar que o país entre no caos e está trabalhando com leis. Leis que são apresentadas e votadas pelo representante que nós, o povo e as empresas, colocamos no poder! O papel do brasileiro é fiscalizar, usando a internet ou outros meios de comunicação para saber quando pressionar os eleitos, e até os juízes, para defender os seus interesses. Questione leis, questione emendas como a chamada “emenda Lula”. Ameace através do voto, não de violência nas ruas.
JAMIL ASSIS: “O BRASIL É UMA DEMOCRACIA FALHA”
Se a modificação de políticas públicas alinhada à preferência majoritária no Legislativo parar de ser comparada com a opressão de algumas ideologias, vamos progredir rapidamente.
Tampouco é possível ignorar a quantidade enorme de manifestações Brasil afora, mas elas não foram causadas pelo processo atual, ainda que tenham ficado mais evidentes. Suas raízes, como o racismo, o autoritarismo e a intolerância, são mais profundas que o revelado pelo processo político atual. Não misture as coisas.
As instituições políticas existem para garantir o meio e o caminho da tomada de decisão, absorvendo os conflitos e processando-os pacificamente. O próprio Legislativo tem o papel fundamental de traduzir os problemas na sociedade para a linguagem institucional, por meio da representação política. Precisamos de mais gente preparada para entender o processo legislativo entrando para a política!
SEBASTIÃO VENTURA: “A DEMOCRACIA SÓ É POSSÍVEL QUANDO HÁ VERDADE NA AÇÃO POLÍTICA”
É fundamental que a população dê o sinal verde para as instituições democráticas. Use o telefone, escreva as suas cobranças. Estamos à beira de uma mudança de mentalidade.
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