O Rio de Janeiro produz coisas extraordinárias também na política. Já retratada em prosa, verso, cinema e televisão, a situação do Estado é de total falência institucional e política. Ali o crime penetrou sem qualquer cerimônia nos Poderes públicos, tornando a população refém de grupos que confundem a política com a contravenção e a delinquência. O triste resultado que enxergamos deve servir de alerta para o restante do Brasil.
Hoje, estão na cadeia todos os governadores do Rio de Janeiro eleitos desde 1998. Apenas o atual, por enquanto, não tem uma data de encontro marcada para se explicar na Justiça. Mas está citado na Lava Jato.
Antes de qualquer coisa, é preciso entender como o Rio de Janeiro chegou nessa situação. Uma soma de excesso de burocracia e governos grandes calcados no assistencialismo. Populistas e corruptos, serviram-se do clientelismo como arma para alcançar o poder e, uma vez instalados, atuaram em conluio com empresas ligadas aos políticos para saquear recursos pagos pelos contribuintes. Isso sem falar no crime organizado, que espalhou seus tentáculos em todos os Poderes.
A situação que vivemos hoje não é nova. Apenas começou o período da colheita de décadas de omissão e leniência com a corrupção, a contravenção e o crime organizado. O crescimento do tráfico décadas atrás, aliado ao crescimento e à consolidação de milícias é apenas o capítulo mais recente de uma história que começa bem antes, mas que dilacerou a imagem e o cotidiano da cidade.
O voto é o principal instrumento para a limpeza na política, entretanto, no Rio de Janeiro a situação é mais delicada. Com núcleos mantidos sob o controle do crime, pouco a pouco este vai se infiltrando nas instituições democráticas. Uma estrutura que financia, prepara e elege nomes para o Parlamento, espalhando-se também pelo Judiciário e nas infinitas ramificações do Executivo.
Quem enxerga a situação do Rio de Janeiro nos dias de hoje certamente lembra de países, como a Colômbia, que possuía cidades, como Medellín e Cali, em circunstâncias semelhantes. Nesses lugares, o crime também havia se infiltrado nas instituições e chegou a financiar a candidatura vitoriosa do ex-presidente Ernesto Samper. Medellín se recuperou de forma admirável. O mesmo aconteceu com Ciudad Juarez, no México. A limpeza atingiu todos os níveis e instituições.
A situação do Rio de Janeiro é tão periclitante que vai muito além da falência na segurança. Atingiu saúde, educação, transportes e o que mais pudermos imaginar. Mas não faltam obras superfaturadas para ceifar os impostos pagos pela população. Poucos entendem que menos Estado é menos poder nas mãos daqueles que desviam o dinheiro do cidadão. A sociedade precisa recobrar o controle sobre sua própria vida.
Enquanto não for assumida uma posição firme de limpeza institucional, não haverá chance de sucesso. Fora disso, o processo de degradação e de falência política somente irá se agravar. Que essa infeliz experiência sirva de exemplo do mal que a corrupção e o crime organizado podem causar a uma nação.
Fonte: “O Tempo”, 27/11/2017
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