Enquanto ainda persiste a dúvida sobre a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma realidade começa a se consolidar na corrida eleitoral de 2018: a fragmentação do voto antipetista. É o cenário ideal para a radicalização.
À medida que o campo no centro do tabuleiro político se pulveriza, crescem as chances de um segundo turno entre Lula e o deputado Jair Boolsonaro. Será essa a situação caso se confirmem todas as candidaturas que vêm sendo cogitadas.
Os nomes ligados aos partidos tradicionais que disputam o voto centrista serão, em princípio, apenas dois. O primeiro é o governador paulista, Geraldo Alckmin. O segundo será um candidato governista – ou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ou mesmo o presidente Michel Temer, cuja reeleição tem movimentado conversas em Brasília.
Fora dos grandes partidos, a pulverização inclui o apresentador de TV Luciano Huck, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, o economista João Amoêdo, do Partido Novo. Todos deram passos na direção do lançamento de candidaturas nos últimos dias. Não é possível tirar do páreo Marina Silva, da Rede, ainda indecisa.
Confirmadas essas candidaturas, basta fazer as contas para entender como são altas as chances de segundo turno entre Lula e Bolsonaro. De acordo com as pesquisas, o patamar de Lula tem variado em torno de 40% dos votos válidos. Dificilmente cairia abaixo de 30% (ou 25% dos votos totais) caso saia candidato.
As dúvidas aí são duas: 1) Lula realmente sairá candidato?; 2) caso não saia, terá poder de transferir seus votos a qualquer outro petista com base no discurso clássico de vitimização, “elite contra povo”, “golpe” etc.? Mesmo que a resposta à primeira pergunta seja não, qualquer candidatura petista seria forte. Por dois motivos: o PT tem um eleitorado historicamente fiel e adotou uma postura clara de oposição a um governo extremamente impopular.
Quão forte? Difícil dizer. Levando em conta o histórico, num cenário pessimista para o partido, o PT não teria menos de 20% dos votos válidos (metade do que as pesquisas sugerem hoje). Restariam 80% dos votos para dividir entre todos os demais candidatos – incluindo não apenas os já mencionados, mas ainda Ciro Gomes, Álvaro Dias, Manuela d’Ávila e quem mais houver.
Se Lula e todos os demais candidatos de esquerda reunirem 25% dos votos válidos (uma hipótese também pessimista), restariam 75% para todo o resto. Na disputa do voto antipetista, Bolsonaro saiu na frente. Tem hoje nas pesquisas em torno de 15% dos votos válidos.
O eleitorado dele está concentrado nas classes média e alta. Bolsonaro ainda tem, portanto, espaço para crescer nas faixas de renda e escolaridade mais baixas, sensíveis ao discurso de “lei, ordem e moral” que garantia o sucesso da direita nesse eleitorado até surgir Lula.
Será atacado na campanha. Terá de enfrentar suas próprias deficiências pessoais, entre as quais sua reconhecida ignorância em economia é eleitoralmente o menor dos problemas. Levando tudo em conta, é razoável que mantenha no mínimo os 15% que tem hoje.
Somando os votos de Bolsonaro, do PT e da esquerda, restariam, com muita generosidade, 60% a todos os candidatos na briga pelo eleitor de centro. Evidente que, quanto mais gente houver na disputa por esse espaço, maior a chance de um segundo turno entre Lula e Bolsonaro.
Com dois candidatos apenas, um deles teria mais de 30% e passaria fácil ao segundo turno. Com três, bastaria ter mais de 20% pra vencer entre os eleitores de centro. Nesse caso, a disputa com Bolsonaro seria mais apertada. Quatro reduziriam esse patamar a 15% e embolariam a briga pela vaga no segundo turno.
Se tivermos seis candidatos – Alckmin, Huck, Joaquim, Amoêdo, Marina e Meirelles/Temer –, Bolsonaro será o franco favorito a enfrentar Lula ou qualquer petista que receba sua unção.
Não é impossível que, até a eleição, alguém desponte nas pesquisas e se consolide na liderança do campo antipetista. Mas é difícil, pois todos brigam mais ou menos pelo mesmo eleitor de centro. Jogam um jogo de soma zero na briga por no máximo 60% dos votos. Por isso, cada nova candidatura de forasteiros da política favorece Lula e Bolsonaro. Fragmentação é tudo o que querem os radicais.
Fonte: “G1”, 20/11/2017
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