Os distúrbios ocorridos na França lembram as manifestações que tomaram conta do Brasil em 2013. A origem do movimento, entretanto, está além das justificativas objetivas, como o aumento das passagens de ônibus ou a elevação do preço do diesel. O que se esconde por trás deste tipo de protesto é uma insatisfação generalizada diante do estado de coisas.
Os franceses sentem mais do que qualquer outra nação os efeitos daquilo que convencionou-se chamar de globalismo, que significa a supressão forçada das identidades nacionais em troca da imposição de políticas multilaterais propostas especialmente por entidades transnacionais. A adoção desta pauta plurinacional penetrou na sociedade francesa, atingindo seus valores e sua identidade como nação. A revolta, enxergada nas ruas de Paris, é apenas uma reação provocada por este movimento.
O mais notório caso de resistência ao globalismo surgiu no âmbito europeu. Ao perceber o avanço das políticas internacionais em sua pauta doméstica, o Reino Unido reagiu de forma clara nas urnas rejeitando a excessiva interferência da União Europeia, algo que se desdobraria, em muito pouco tempo, em perda de identidade nacional britânica.
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Nos Estados Unidos, que seguiram o caminho aberto pelo Reino Unido, a reação ao movimento globalista veio também pelas urnas, com a eleição de Donald Trump, que resgata valores conservadores que permeiam a sociedade americana, dando força e voz a um movimento de fortalecimento da identidade dos traços formadores da nação. Na América, a opção foi rejeitar valores globais artificiais por meio do resgate da essência nacional.
Este valores ocidentais que formaram nações como Estados Unidos, Reino Unido e também a França precisam ser resgatados aos invés de suprimidos por uma suposta verdade transnacional transportada para as legislações e costumes nacionais. A França, mais do que qualquer outro país, deixou o globalismo penetrar suas instituições e valores. A reação nas ruas de Paris, portanto, não é uma surpresa.
O Brasil encarou o mesmo desafio. Ao introduzir gradualmente a pauta globalista, enxergamos nossa identidade ocidental ser suprimida. Ao tomar as ruas em 2013, a população se revoltava em não ver seus anseios e pautas atendidas, promessas de um movimento que não entregou resultados e dilacerou suas perspectivas de uma vida mais digna. Ao atacar os valores tradicionais ocidentais, formadores da sociedade brasileira, o governo anterior perdeu a conexão com o povo, perdendo também legitimidade.
Assim como no Brasil de 2013, a França de 2018 encara de frente os sinais de fadiga de um sistema apodrecido e que precisa ser renovado. O surgimento de uma força conservadora que una os franceses em torno desta reação é apenas uma questão de tempo. A França precisa resgatar seus valores, história e cultura. “Faire de la France à nouveau un grand pays”, é o grande desafio que se avizinha.
Fonte: “O Tempo”, 10/12/2018