O tema Amazônia virou pastelão, ou pâtisserie. Na segunda-feira (26), Macron afirmou que a ONU e a comunidade internacional deveriam atribuir “estatuto internacional” à Amazônia, violando a soberania territorial brasileira.
Quando me perguntam sobre o que é o tal do globalismo, costumo citar as estruturas supranacionais elitizadas, não eleitas e distantes das necessidades do cidadão comum. Macron acaba de prover um exemplo adicional. Nos anos 1960, a França de Charles de Gaulle implementou um bloqueio militar e aduaneiro de Mônaco, cercando com tanques de guerra o minúsculo país de 20 mil habitantes que ocupa uma área inferior a 5% da ilha de Manhattan. Exigia que Mônaco cobrasse impostos mais altos das companhias e cidadãos franceses operando no principado. O bullying fez o príncipe Rainier capitular. Agora, o presidente francês julga que o Brasil não cuida bem da Amazônia. O consolo é que Macron não é de Gaulle.
O objetivo de Macron com a histeria ambiental é bloquear o acordo UE-Mercosul. Após a reunião do G7 no fim de semana, declarou que hoje não assinaria o acordo em razão da Amazônia. Macron está defendendo o lobby mais poderoso da Europa: os agricultores franceses viciados em subsídios.
Não foi diferente com De Gaulle. Durante as reuniões para instituir a Comunidade Europeia, em 1965 e 1966, deixou a cadeira da França vazia até que o país fosse agraciado com um poder de veto sobre política agrícola.
Não fossem as proteções alfandegárias e não alfandegárias, a Europa jamais produziria um grão sequer de açúcar, e talvez até outros grãos. Desse modo, o Brasil e países pobres como Guatemala, Moçambique e Índia veem obstruídos os benefícios da globalização.
Há consequências práticas do protecionismo agrícola. Mais de 20 milhões de brasileiros vivem na região amazônica, quase a metade abaixo da linha da pobreza. São pessoas de carne e osso, e não monstros violadores do “pulmão do mundo” (uma expressão falaciosa, aliás). Precisam sobreviver por meio da produção, em geral produtos agrícolas, que poderiam ser escoados mais facilmente ao mundo desenvolvido que ao mercado consumidor brasileiro ao sul.
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Como afirma Leandro Narloch em seu artigo do dia 26 no The Wall Street Journal, desenvolvimento é precondição da preservação sustentável.
O pequeno agricultor amazônico costuma observar o Código Florestal, particularmente quanto ao limite utilizável de apenas 20% do terreno. Porém, sofre dificuldade em obter energia, combustível e vias de escoamento, e perpetua-se uma produção de mera subsistência.
Boa parte do problema ambiental se deve aos ambientalistas, profissionais do obstáculo ao desenvolvimento. A vasta maioria considera que a atividade econômica baseada em lucro e trocas voluntárias é a causadora da crise ambiental.
Narloch abraça soluções mais capitalistas: defende a permissão para mineração sustentável nas extensas áreas indígenas, a construção de hidroelétricas de baixo impacto e a adoção de manejo sustentável da madeira extraída. Não há dicotomia “mercado” versus “ambiente”: na verdade, o mercado é amigo do ambiente.
O ambientalismo é no fundo um movimento de elite. Os aumentos de preços derivados das proibições de atividades e produtos acertam em cheio o bolso dos mais pobres em nome de atender as suscetibilidades do ambientalista com condições financeiras.
Faria bem o presidente Bolsonaro em evitar o pastelão, falar menos e aceitar o dinheiro europeu.
Fonte: “Folha de São Paulo”, 28/8/2019