O candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, tem diante de si um desafio gigantesco: saltar do modesto quarto lugar nas pesquisas e conquistar eleitores antipetistas enfrentando, ao mesmo tempo, denúncias de corrupção e o “fogo amigo” em sua coalizão e no seu próprio partido.
Seus trunfos são conhecidos: quase metade do tempo no horário eleitoral gratuito, o arco amplo arco de alianças regionais, o eleitorado fiel em São Paulo e a tradição do PSDB como rival do PT nas últimas sete eleições. Sua estratégia também: apresentar-se como o único candidato moderado e equilibrado em meio aos radicais, como o insosso, porém seguro e previsível, “picolé de chuchu”.
Mas os obstáculos que terá de superar persistem. Para começar, as fissuras em sua própria coalizão. Candidatos como Alberto Fraga (DEM-DF), Magno Malta (PR-ES) ou mesmo o tucano Reinaldo Azambuja, governador que disputa a reeleição no Mato Grosso do Sul, não escondem suas simpatias pelo deputado Jair Bolsonaro. Há traições em favor de Bolsonaro até no interior paulista, eleitorado cativo de Alckmin.
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Diante da dificuldade de atrair antipetistas, hoje inclinados a votar no candidato do PSL, o pior que pode acontecer a Alckmin é a sugestão do tucano-mór, Fernando Henrique Cardoso, de uma aliança com o PT contra Bolsonaro no segundo turno. A declaração levou Alckmin, para distanciar-se de FHC, a gravar um vídeo chamando ambos de “radicais”.
A sucessão de escândalos de corrupção envolvendo o PSDB também contribui para deteriorar a imagem de Alckmin perante o eleitor farto das maracutaias de petistas e da política em geral.
Por mais que as denúncias possam ter naturezas e dimensões distintas, a percepção de que “todos são iguais” e de que Alckmin, apoiado por todos os partidos do centrão fisiológico, é o candidato do “sistema corrupto” tem sido essencial para o sucesso de Bolsonaro.
Em nada ajuda, também, a entrevista em que o presidente Michel Temer, ele mesmo alvo de duas denúncias por corrupção, respondeu à pergunta sobre quem apoiava na eleição não com o nome de Henrique Meirelles, seu ex-ministro da Fazenda e candidato do MDB, mas com a seguinte frase: “Parece que é o Alckmin, né?”.
Os três últimos candidatos tucanos à Presidência enfrentam problemas na Justiça. Aécio Neves só escapou da prisão graças ao corporativismo do Senado que evitou cassá-lo, mesmo diante da gravação em que solicitava R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, depois entregues a um primo numa operação controlada da Polícia Federal (PF).
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José Serra, mencionado tanto na delação da JBS quanto na da Obebrecht, sofreu ontem novo revés com a revelação, pelo Jornal Nacional, de que sua filha administra uma conta na Suíça que recebeu até € 400 mil de uma empresa do lobista José Amaro Pinto Ramos, ligado à multinacional francesa Alstom, suspeita de pagar propina para obter obras no metrô paulista. A informação corrobora depoimentos da delação da Odebrecht.
Por fim, o próprio Alckmin foi citado pelos delatores da Odebrecht como beneficiário de R$ 10,3 milhões em caixa dois nas campanhas de 2010 e 2014 e, nesta semana, viu-se obrigado a prestar depoimento num processo civil, em que é acusado de improbidade administrativa.
O principal caso que atinge sua gestão em São Paulo envolve as obras do trecho 2 do RodoAnel. Seu ex-secretário e ex-presidente da Dersa Laurence Casagrande Lourenço foi preso e denunciado por desvios estimados em R$ 600 milhões, como resultado da Operação Pedra no Caminho, da Polícia Federal (PF).
Aécio diz que Joesley lhe fez apenas um empréstimo. Serra nega todas as acusações, diz que jamais recebeu vantagem indevida e que não há possibilidade de ilegalidade envolvendo sua filha. Alckmin afirma que todas as contribuições a suas campanhas se deram dentro da lei.
Casagrande defende sua gestão na Dersa, acusa PF e Ministério Público de arbitrariedades em sua prisão e afirma que o aumento no custo das obras do Rodoanel se deveu a matacões, pedras gigantescas encontradas na Serra da Cantareira.
Os matacões no caminho de Alckmin parecem ainda maiores. Pode até ser que todos esses acusados, ao final dos processos, sejam declarados inocentes. O difícil, no fragor da campanha, será convencer o eleitor antipetista de que os tucanos são diferentes daquele partido cujo candidato-fantasia cumpre pena na carceragem da PF em Curitiba.
Fonte: “G1”, 17/08/2018