Continuamos engolfados na crise, no escândalo, do site “The Intercept”, do jornalista Glenn e suas revelações, em diálogos “hackeados” entre personagens envolvidos na Lava-Jato.
Tudo lamentável. Na “ilegal” escuta de vários diálogos entre Sergio Moro e Dellagnol, todos devidamente selecionados, o mesmo pode ser dito na direção contrária. Vai que alguém, com interesses outros, resolve “contratar” um “hacker” para captar “ligações” de personagens da esquerda, como o ex-presidente Lula da Silva, José Dirceu, Antônio Palloci, Gleisi Hoffman, ou mesmo o mau fadado Adélio?
A impressão que se tem é que seguimos presos a um labirinto e não conseguimos sair dele. Vivemos num impasse político e institucional permanente nestes anos todos, em verdade, desde 2014. Isso se arrasta desde meados deste ano, quando da eleição de Dilma Roussef. De lá para cá, não conseguimos viver uma semana que fosse em normalidade institucional.
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Nestes anos, por variadas razões, poucos avanços foram possíveis na área econômica, na agenda de reformas. Como estas geram mudanças profundas nos regimes econômicos, os que perdem seus privilégios tendem a reagir. Achamos que uma agenda razoável de governo deve passar, antes de tudo, pelo aprimoramento das instituições, avanços na economia, reformas estruturais necessárias, como a Tributária ou a Previdenciária, etc. Isso porque são estes desequilíbrios que urgem e afetam a vida de todos, e não de minorias. Como bem disse Paulo Guedes, o regime previdenciário no País é uma “fábrica de privilégios”.
O PT nunca teve interesse em mexer nestes vespeiros. Na verdade, o PT tinha por objetivo manter este “status quo” das várias castas, em sua maioria, dos serviços públicos, ameaçados de perder seus benefícios. Em verdade, as distorções são abissais. Como vem sendo dito neste espaço, temos 30 milhões de brasileiros, no INSS, respondendo por um déficit previdenciário em torno de R$ 90 bilhões, montante semelhante para o regime dos servidores públicos, mas envolvendo apenas 1 milhão. Há algo muito errado nisso aí.
O governo Bolsonaro é objeto de críticas? Muitas, muito pela sua inábil capacidade de negociação. Mas surgem uma colocação. Ele não governa sozinho. O que importa é seu entorno. Paulo Guedes na Economia, Sergio Moro na Justiça, Marcos Pontes na Ciência e Tecnologia, Tarcísio Delgado na Infraestrutura, todos excelentes quadros. Nossa cobrança sobre o governo Bolsonaro, portanto, é que ele “arrume a casa”, normalize o convívio em sociedade, acabe com a “gritaria histérica” de alguns, que devem perder com a reforma da Previdência.
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Concluindo. Há plena consciência de que o que Jair Bolsonaro terá que contrariar ainda muitos interesses. Claro que sua capacidade de negociação escassa contribui para as crises que surgem dia sim, dia não. Por outro lado, não dá mais esperar. O Estado esgotou na sua capacidade de investir e oferecer bons serviços. Os déficits públicos crescentes, a dívida já acima de 80% do PIB e a “despoupança” são uma realidade. Dados do Tesouro indicam que os investimentos públicos são ínfimos, perto de 0,4% do PIB. Na verdade, o que se tem é “desinvestimento”, dada a necessidade de ajuste da Petrobras, na venda de ativos, por exemplo, principal player do setor público neste front.
A agenda econômica do ministro Guedes será então tentar “romper com esta não-agenda”. Que ele tenha sucesso.