Na noite de quinta-feira reuniram-se na residência oficial do presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Rodrigo Maia (DEM), o senador Aécio Neves (PSDB) e o presidente Michel Temer (MDB). O tema do encontro, que não constava da agenda pública de qualquer um deles, era naturalmente a sucessão e a montagem do quadro eleitoral. Discutiu-se o avanço da esquerda e de Bolsonaro, o papel dos tucanos, a união do centro e o peso do MDB. Em uma eleição de pouco apelo centrista, faltam eleitores e os partidos da base não desejam carregar a âncora do governo Temer durante a campanha.
A questão central é o calendário eleitoral. Com a ocorrência das convenções logo após a Copa do Mundo, os partidos possuem muito pouco tempo para ver seus pré-candidatos embalarem na campanha presidencial. Na trinca reunida no Planalto, por enquanto sobra poder, mas faltam votos. Alckmin ainda não decolou, com Doria sendo lembrado sempre como alternativa. Rodrigo Maia segue com o balão de ensaio de sua candidatura para garantir a reeleição como deputado. Henrique Meirelles não empolga nem o governo, tampouco o MDB. Os três somados não ultrapassam 10% nas pesquisas.
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Democracia ferida
Os partidos precisam de um horizonte mais definido até as convenções e tudo indica que o quadro que enxergamos hoje pode se tornar o definidor das candidaturas. Logo, é possível que o MDB rife Henrique Meirelles e busque abrigo na vice de outra candidatura. A tarefa será difícil. Por mais que tenha muito a oferecer, o partido pode mais prejudicar do que ajudar. O peso da impopularidade de Temer é algo incômodo na corrida presidencial.
Ao mesmo tempo o chamado “centro político” busca se unir em torno de uma candidatura. Progressistas, Solidariedade, Democratas e PRB seguem divididos. Enquanto alguns desejam apoiar Alckmin, outros preferem Ciro e muitos já se definiram por Bolsonaro. Por mais que alguns partidos fechem alianças, a certeza é que seguirão rachados para a disputa nacional. Fato é que a união do centro ainda não empolga e no cenário atual tem poucas chances de impulsionar seu candidato para o segundo turno.
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O MDB segue como a noiva rica, porém indesejada. Com extensa rede de prefeitos e governadores, que fornece ampla capilaridade em uma candidatura nacional, é olhado com desconfiança e ceticismo pelos possíveis pretendentes. Dono de minutos preciosos no rádio e TV e valioso fundo eleitoral, ainda não empolgou aqueles que namoram a possibilidade de associar-se a sua imagem. Isto tudo tem uma razão de ser: a impopularidade de um governo desgastado e marcado pelas denúncias de corrupção, uma combinação fatal em um pleito de forte apelo pela renovação. Contudo, dotado de um estratégico instinto de sobrevivência, o MDB pode optar pelo isolamento. Sem compor chapa nacional, mas usando seu exército para eleger deputados, governadores e senadores, pode tornar-se mais uma vez o partido da governabilidade, aquele que o próximo presidente precisará quando chegar ao Planalto.
Fonte: “O Tempo”, 25/06/2018