Um espectro ronda o país – o espectro da transição demográfica. Num primeiro momento, ele surge como bonança – as pessoas vivem mais e em condições mais saudáveis. O que era uma pirâmide se transforma numa coluna – que, eventualmente, poderá se transformar numa pirâmide invertida –, aliviando temporariamente as pressões para a expansão de vagas no sistema educativo. Mas aí surge a cobrança: quem vai trabalhar para manter a economia funcionando de forma produtiva? Por quantos anos? Quem vai sustentar os aposentados e os custos de saúde de uma população longeva?
O espectro assume contornos mais nítidos – e tenebrosos – quando mostra os vários ângulos de sua cara. Boa parte dos nossos jovens de 15 a 29 anos tem baixo nível de escolaridade, e já se tornou crônica sua dificuldade de inserção no mercado de trabalho. É crescente a proporção dos nem-nem – jovens que nem estudam nem trabalham.
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A reforma do ensino médio – tópico que precisa ser atacado com prudência e denodo – poderá contribuir para reduzir o problema para as futuras gerações. Mas o estoque – a quantidade de jovens – que está a margem da economia e da sociedade representa um problema de dimensões formidáveis e consequências desastrosas para os indivíduos, para a sociedade e para a economia. Não existem saídas fáceis.
As soluções convencionais são caras e inócuas. Os programas de EJA – Educação de Jovens e Adultos – só conseguem algum resultado positivo em circunstâncias muito especiais. Os programas de formação profissional – inclusive a maior parte do PRONATEC – são casos de perda total – repartir os recursos entre os alunos teria sido um uso melhor dos recursos. A legislação sobre “aprendizagem’ e “estágios” inibe a procura de soluções criativas e eficazes, em nome da proteção do menor e do aluno. A mensagem da legislação é clara: pode tudo, menos trabalhar.
A experiência internacional apresenta alguns casos de sucesso e exemplos de soluções potencialmente interessantes. Também deixa claro que (a) nada substitui uma boa educação formal no tempo certo e (b) de nada adiante treinar pessoas para empregos que não existem.
O desafio se torna maior quando sabemos que esses jovens farão parte do novo contingente de longevos – e que, portanto, não apenas estão despreparados para o presente, mas estão mais despreparados ainda para os desafios do futuro.
Resta, portanto, a pergunta aos candidatos: que esperança eles trazem para a juventude, os jovens atuais e essa enorme parcela da juventude que está sendo deixada à margem da sociedade? E que esperança trazem para uma sociedade que – se não houver iniciativas eficazes agora – dentro de 30 anos contará com uma parcela significativa de idosos totalmente desprovidos de meios para lidar com os muitos anos de vida que lhes restam pela frente?
Se o seu candidato não sabe como mudar a educação, mude de candidato!
Fonte: “Veja”