Já falei várias vezes nos meus posts, na rede social, entre amigos: “Não sou de esquerda, muito menos de direita ou de centro”. Aliás, se é para rotular, algo que eu me nego a fazer, me considero um cara mais de centro, mais pelo equilíbrio e bom senso.
Acho que a nossa esquerda, nos anos 80 e 90, foi meio radical e utópica nos seus radicalismos, mas mais recentemente “degringolou” de vez. A partir do momento que seus principais dirigentes começaram a ser pegos em inúmeras transações obscuras w falcatruas, minha admiração e respeito por alguns destes e pelos partidos de esquerda, em particular, se esvaiu totalmente.
Não vejo, hoje, nenhum partido de esquerda ou de centro esquerda que eu possa dizer “é com este que eu vou”. PT, PSOL, PC do B, PDT, PSB, todos são caricaturas ou farsas das virtudes que já buscaram ter.
Na direita, as coisas não são mais fáceis. Em sua maioria, são partidos de aluguel, fisiológicos, entremeados por quadros medíocres, destacando-se negativamente, para mim, a bancada evangélica, de extrema direita e muito reacionária nos costumes. Alguma normalidade sempre seria interessante. Não tenho paciência para vir um Deputado ou Senador, suposto representante do povo, emitindo opiniões estapafúrdias sobre como nós devemos gerenciar nossas vidas pessoais, se nem eles dão o exemplo.
Minha opção então acaba sendo buscar partidos mais de centro, equilibrados, sem os extremistas de direita ou de esquerda. No passado, confiei no PSDB, nos tucanos, não confio mais. Nas eleições passadas flertei com o NOVO, votei no primeiro turno no João Amoêdo, embora pendesse para Jair Bolsonaro, no esforço de me livrar logo do PT, “meu inimigo imaginário mais presente”. Não sei em quem votaria no segundo turno. Não votei nesta fase. Vim para Portugal, antes. Não foi uma decisão fácil.
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Sempre, eu digo sempre, esperei alguém equilibrado, com tino político e experiência suficientes, uma liderança, que pudesse colocar o País de novo nos eixos, sem cair em armadilhas, sem destilar estultices, sem gerar polêmicas desnecessárias e que reunisse a sociedade. Talvez tivéssemos este personagem nas eleições, mas ele não emergiu, não mobilizou as massas, não apareceu. Até a disputa do segundo turno o que tínhamos era uma polarização de extremos, pelo lado da direita e da esquerda.
Veio uma facada e mudou o curso das eleições. Soma-se a isso, o sentimento preponderante de parte da sociedade, de repúdio ao PT e suas práticas nefastas.
Bom, chegamos agora a meados de maio. Resolvi dar um salto considerável, pois pouca coisa boa dá para contar nestes cinco meses de governo Bolsonaro. Já falei no post anterior. Formou uma boa equipe econômica, gosto do Paulo Guedes, pela sua sinceridade e objetividade.
Pronto. Sou um liberal democrata, sem fanatismo. Acho que o Estado tem deveres a cumprir, que não cumpre com eficiência, muitas empresas públicas já perderam qualquer finalidade, a não ser “fabricar ou encaixotar fumaça”. Não servem para nada. Sim, servem para algo. Servem para “acomodar forças políticas”, em outras palavras, para práticas ilegais, para desvios. O Estado precisa de um choque de produtividade, de eficiência, algo que não tem. Não faz sentido hoje termos um Estado paquidérmico, sem ofertar bons serviços.
Voltando ao presidente, seu maior problema é ele próprio. Achei que o general Augusto Heleno fosse conseguir enquadrá-lo, assim como o general Mourão. Este caiu meio que em desgraça nos círculos bolsonaristas por ter tentado ser um anteparo, um contraponto, às bobagens e decisões, à lá Jânio Quadros, ditas e feitas pelo presidente. Dizem que o general Villas Boas também seria esta pessoa, mas boatos indicam já estar de saída.
Bolsonaro é um elefante desastrado, apavorado, numa cristaleira, fugindo do rato. Está sempre com armas na mão, em guarda. Sempre na defensiva ou na confrontação.
Com ele, bateu, levou. Isso pode valer para sua atuação de 27 anos no Parlamento, mas seria adequado enquanto presidente? Não creio. Vem falando demais e fazendo muitos inimigos.
Um deles, a imprensa, o chamado “quarto poder”. Tirou verbas de publicidade dos principais veículos e com isso, uma pronta resposta dos jornais vem sendo inevitável. Tudo ganha uma dimensão exagerada na imprensa. Qualquer lapso, frase mal colocada, e Bolsonaro é mestre nisso, já ganha as primeiras páginas.
No caso do MEC, contingenciamento de recursos para as universidades sempre houve. O problema foi o novo ministro falar uma palavra: “balbúrdia”. Bem, detonou o espírito de corpo (“spirits du corps”), o corporativismo. Mexeu comigo, mexeu com todos! E olha que eu vejo muitos defeitos na universidade pública, muitos. Os diretórios, sempre de esquerda, no passado, considerados algo exótico e sem expressão, pois não recebiam recursos oficiais, passaram a recebê-lo e se tornaram braços militantes poderosos das esquerdas nos pilotis das universidades. E como fazem barulho!
O fato é que o governo está quebrado, esta é a realidade, e não é culpa deste. Ajustes se tornam inevitáveis. Está certo. Este Bolsonaro é um desastre na comunicação com a sociedade. Fala demais. Mas o ministro Paulo Guedes está sendo limpo e transparente nas suas declarações às comissões do Congresso. Está colocando a bola para o Congresso chutar e resolver. Agora, se a reforma da Previdência não passar, eles que resolvam. A verdade é que estamos “emburacados” numa crise fiscal, criada pelas gestões passadas. Bolsonaro está enfrentando as corporações, os picarescos sindicatos que, para se mobilizar com recursos públicos, é um pulo. Foi isso as manifestações deste dia 15 de maio, além de um certo oba oba da nossa esquerda festiva carioca. Como gostam de protestar e não apresentar alternativas viáveis…
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O Brasil não aguenta mais 4 anos de disputas e impasses. Leia isso com atenção. São 14 milhões de desempregados, o PIB não deve crescer mais de 1% neste ano e neste primeiro trimestre vir no negativo. Sinceramente, não achamos saudável para o País mantê-lo nestas disputas, nestes debates extemporâneos. Já falei isso antes. Acho o presidente Bolsonaro despreparado, mas no seu governo há outros que eu admiro e é neles que estou me apoiando para atravessar estes 3 anos e meio que restam.
Em resposta, lentamente, os militares vão tomando espaços no governo e assumindo o poder. Algo inevitável diante do ambiente de açodamento atual. E que estes consigam, de uma vez por todas, enquadrar o presidente, mestre em queimar capital político, e deixar uma impressão negativa na sociedade.