Vivemos tempos estranhos. A democracia mostra sinais de fraqueza pela primeira vez desde o final da Segunda Guerra Mundial. A crença de que este sistema político seria o farol que conduziria a humanidade até a liberdade não entusiasma como no passado. Como resultado, enxergamos cada vez mais a ascensão de governos autoritários ou autocráticos ao redor do mundo. Uma situação que preocupa.
Aqui não importa se falamos de esquerda ou direita, pois sabemos que ambas ideologias forçadas ao seu extremo se encontram na ausência de liberdades. Vemos por ambos os caminhos a ascensão de líderes autoritários que dirigem regimes que seguem livremente na direção da supressão de valores democráticos.
Democracia significa muito mais do que eleições livres. A tradução da vontade do povo, coroada pela decisão de seus eleitores, é um capítulo importante, entretanto, apenas mais uma peça dentro da engrenagem que move a democracia. Devemos ter, além disso, um pleno sistema de liberdades, que passa pela garantia dos direitos civis e deságue em um sistema de liberdade econômica autêntico, que impeça governos de manobrarem a economia como forma de orientar o resultado eleitoral.
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A construção de uma democracia é um trabalho árduo e demorado. Somente é valorizada quando perdida e, depois de tempos sombrios, sempre é resgatada como forma de garantir a cidadania perdida em meio a experimentos autoritários. Assim, antes de sofrer revezes, devemos estar atentos a qualquer forma de atentado contra sua existência.
A ascensão de governos autoritários pode ocorrer dentro de modelos democráticos. Portanto, o eleitor deve sempre estar atento aos riscos inerentes ao sistema que garante sua liberdade, mas que, por ser plural, abre uma via para o ingresso daqueles que desejam subvertê-la. Aquilo que começa como uma autocracia, pode facilmente se encaminhar para um regime de traços cada vez mais supressivos.
De tempos em tempos, o mundo flerta perigosamente com esses regimes e a ascensão de líderes que podem colocar em xeque nosso sistema de liberdades, inclusive infringindo o que chamamos de Direitos Humanos, a garantia que todo o cidadão possui de não ter suas liberdades violadas pelo Estado. Infelizmente, não é raro enxergar situações em que as urnas preferem o conforto temporário das promessas populistas em contraposição aos valores democráticos. Como dizia Thomas Jefferson: “o preço da liberdade é a eterna vigilância”.
Mesmo diante da revoada de governos autocráticos ao redor do mundo, esperamos que o Brasil seja forte e evite qualquer flerte com caminhos que possam desviar nosso país do rumo democrático que vem sendo construído. Nada pior do que uma autocracia vestindo as cores da democracia. Precisamos estar atentos.
Fonte: “O Tempo”, 16/04/2018