Um “Plano Real” para alavancar uma candidatura presidencial é um sonho de verão. Simpatizantes do projeto político de Henrique Meirelles enxergaram nos resultados favoráveis já visíveis da política econômica como fator que impulsionaria sua caminhada nas eleições presidenciais deste ano. Meirelles repetiria o sucesso de FHC em 1994.
Agora, fala-se nas chances de reeleição de Michel Temer em consequência da intervenção federal no Rio de Janeiro. O tema da segurança seria apropriado por Temer, constituindo o Plano Real do presidente. Parece um delírio.
O Plano Real é um acontecimento que dificilmente se repete. Acarretou uma melhora instantânea e percebida como duradoura na vida de milhões de brasileiros, particularmente os de baixa renda. Muitos saíam para trabalhar sem saber se o dinheiro que tinham compraria o café da manhã ou almoço do dia. Isso mudou com o plano.
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A correspondente sensação súbita e efetiva de bem-estar viabilizou a eleição de FHC. Em abril, ele possuía apenas 12% de preferência nas pesquisas de opinião. Seis meses depois, seria eleito no primeiro turno. Nada parecido pode acontecer como efeito do sucesso da política econômica de Meirelles ou da intervenção no Rio.
Algo semelhante ocorreu nos Estados Unidos nas eleições presidenciais de 1952. O General Dwight Eisenhower, candidato sem experiência em cargos eletivos, foi eleito com uma plataforma de combate ao comunismo, à Coreia e à corrupção, temas que lideravam as preocupações do eleitorado.
Na verdade, Eisenhower ganhou essencialmente por ser herói da vitória contra Hitler na II Guerra. Ele foi o comandante da invasão da Normandia, início do sucesso aliado na guerra na Europa. Depois, foi o comandante da recém-criada OTAN. Tal qual o Plano Real, os feitos militares e da liderança de Eisenhower dificilmente se repetem.
A intervenção no Rio pode aumentar a popularidade de Temer, mas dificilmente terá a repercussão nacional do Plano Real. Além disso, a iniciativa tem seus riscos. Não há garantia de sucesso. Se a criminalidade não diminuir como se espera, a população atribuirá o fracasso ao presidente. A expectativa de colheita de louros da intervenção pode se transformar em amarga perda de popularidade.
Dificilmente Temer será um candidato competitivo para disputar as eleições presidenciais deste ano. Nem mesmo a melhora na economia, que parece certa, será capaz de reduzir de forma substancial a rejeição ao nome do presidente. Sua popularidade poderá alcançar dois dígitos, mas dificilmente chegará aos 20% ou 30%, insuficiente para viabilizar o projeto político que ele legitimamente parece acalentar.
Fonte: “Veja”, 21/02/2018