Defender a educação virou sinônimo de defender mais recursos. A causa é nobre. Além disso, é fácil – quem pode ser contra? Mas há um problema. Aliás, dois.
Primeiro: no curto, médio e longo prazo, é difícil imaginar que haverá mais recursos para a educação. O PIB está fraquinho. A carga fiscal já está na faixa de 35% – em tese, poderia dobrar se fôssemos um país nórdico. Mas não somos. União, estados e municípios estão quebrados. E mesmo com a Reforma da Previdência, se sair e se incluir estados e municípios, há ainda muitas contas a pagar nas próximas décadas. Nas últimas, vivemos de empréstimos sobre as gerações futuras. Com um déficit nominal de quase 600 bilhões, o brasileiro já nasce devendo 300 mil reais…
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Segundo: a demografia mudou. E as consequências virão nos próximos anos. Observe o quadro abaixo. Os números estão arredondados para facilitar a leitura:
O número de nascimentos diminui. Isso significa que a demanda para cada série escolar irá cair de quase 3 para cerca de 2 milhões de crianças. Isso significa necessidade de menos escolas, menos sala de aula, menos professores.
A população em idade escolar (de zero a vinte anos) vai reduzir de 63 para quase 48 milhões de pessoas. Esse número deve ser comparado com o que vem abaixo.
A população com mais de 65 vai aumentar de 30 para 73 milhões de pessoas no mesmo período. Essas são as pessoas que hoje têm 25 anos de idade – a maioria com baixo nível de escolaridade e sem emprego. Essas pessoas deverão viver, em média, mais 20 anos, e irão demandar serviços de saúde e assistência social que custam caro. E são eleitores – ao contrário da maioria do grupo de pessoas de até vinte anos.
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É fácil e confortável lutar por mais recursos para a educação. Passeatas a favor e contra são saudáveis para a democracia, mas nada de concreto irão resolver. O desafio do momento é aumentar a eficiência – e, para isso, é preciso revolucionar a forma de financiar e de gerenciar a educação. Só isso irá gerar recursos para melhorar a qualidade. A demografia já deu a sua contribuição. A janela de oportunidades é agora. É aproveitar ou largar. Quem viver verá e pagará uma conta maior ou menor, a depender da prudência. Prudência já!
Fonte: “Veja”, 05/06/2019