A campanha de Geraldo Alckmin entrou em estado de alerta. A ausência de tração nas pesquisas tem sido uma preocupação entre seus aliados. O encaixe esperado ainda não foi alcançado e isto tem começado a gerar outros problemas, como deserções e traições. Se a campanha não ganhar um novo rumo nos primeiros dias de rádio e televisão, o tucano pode enfrentar um final de disputa melancólico. A grande vitória alcançada por Alckmin até o momento foi política: o amplo acordo com o centrão. Visto como um trunfo em função do tempo de propaganda eleitoral, pode, na verdade, se tornar um problema, pois atraiu para seu lado a base de um governo impopular e rejeitado pelo eleitor. Um movimento perigoso que também transformou o tucano no candidato informal de Temer.
Além disso, tudo leva a crer que o candidato surge fora de sintonia com a nova política, que move-se principalmente no meio digital, com forte apelo no terreno das redes sociais. Alckmin preferiu os velhos acordos e o tempo de televisão. Contudo, novos tempos, exigem ferramentas novas. De nada adianta se apresentar para um novo tipo de combate usando armas ultrapassadas. Talvez seja por isso que diante da ausência de resultados, o tucano tenha mandado trocar o comando de sua comunicação digital. Se a mudança surtirá efeitos, ainda é uma incógnita.
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Mesmo no terreno da velha política, Alckmin vai mal. Nos debates, soa como um tecnocrata que não empolga. Além disso, sua aliança com o centrão tem alto potencial de combustão, pois seus líderes espalhados pelo país vestem a camiseta apenas daqueles que podem ajudar em seus projetos pessoais. Assim, o tucano passou a ser rifado pelos aliados, especialmente no Nordeste, onde é muito forte a figura de Lula.
Dentro do próprio ninho tucano ainda existe ceticismo em torno de seu nome, a começar por Fernando Henrique Cardoso, que já demonstrou simpatia por Haddad, sugeriu uma aliança com o petismo para evitar a direita na reta final e mais uma vez disse que não deve participar ativamente da campanha.
O PSDB também enfrenta problemas em seus redutos eleitorais. Com Alvaro Dias no páreo, perdeu força nos Estados do Sul do país, essenciais para Alckmin subir. Em São Paulo, onde sua campanha deveria ter o maior impulso dos apoiadores, continua atrás de Bolsonaro. Nada que se faça parece ajudar. Até sua vice, gaúcha e ligada ao agronegócio, não consegue trazer votos para a chapa.
Em 2006, nesta altura do campeonato, Alckmin batia em 27% nas sondagens. Hoje, ainda não saiu de um teto de 9%. Com uma campanha curta e apenas algumas semanas de programa de rádio e televisão, há pouco tempo para o tucano encantar o eleitor. Precisará desconstruir Bolsonaro e atrair eleitores de Alvaro Dias, além de ter que se defender do PT, que prefere um segundo turno contra o atual líder nas pesquisas e deve centrar fogo no tucano para que este não ameace ir para o segundo turno. Alckmin está diante do maior desafio de sua carreira, uma missão praticamente impossível.
Fonte: “O Tempo”, 27/08/2018