O Centro de São Paulo está deteriorado. E a deterioração se espalha feito epidemia, tomando a cada dia um novo pedacinho da cidade.
Não faz muitos anos, o Centro era uma região pujante, abrigava boa parte dos bancos, tinha um comércio acelerado e alguns dos melhores sanduíches do mundo.
Depois, entrou em queda livre e não parou mais. Não é apenas na Cracolândia que a coisa está feia. Em volta do Teatro Municipal, a deterioração tem cheiro de urina e joga lixo nas ruas.
Dá medo andar pela região. Ninguém sabe quando e como será assaltado, invariavelmente, por um coitado que se vale de um caco de vidro, de uma pedra, para levar o que der para trocar por mais uma pedra de crack.
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O mais triste é isso. A região se transformou em último abrigo de infelizes que caíram nas malhas da droga.
O que pode ser feito? Se a resposta fosse fácil eu não estaria escrevendo esta crônica.
As causas da deterioração do Centro estão diretamente ligadas à falência moral da sociedade brasileira, em todos os seus níveis. O país simplesmente não consegue entregar o mínimo do que seria necessário.
O colapso social tem como consequência direta a desestruturação da família, a quebra da dignidade individual, o mergulho nas drogas e a descoberta do inferno na Terra.
Não há salvação e o resultado são milhares de seres humanos caminhando feito zumbis, drogados e fora do mundo, entregues à própria sorte, praticamente abandonados pela família, pelos amigos e pelo Estado, que não sabe como lidar com o problema.
O resultado é uma tragédia. A deterioração do Centro é o monumento à queda do ser humano, mas triste mesmo é o que acontece com as pessoas atingidas.
Fonte: “Estadão”, 28/02/2019