Estou em Pernambuco, com um grupo de especialistas em educação, para tentar entender as razões da melhora nos resultados educacionais deste estado, assim como estive recentemente no Espírito Santo e em Goiás.
Deparo-me com um esforço contínuo e sistêmico de investimento nos professores, na infraestrutura e na gestão, o que resultou na menor desigualdade educacional entre escolas públicas de níveis socioeconômicos diferentes, no mais baixo índice de abandono escolar do país e num crescimento constante do Ideb desde 2007.
Mas o que mais me impressionou foi a ida às escolas. Estivemos em várias, tanto em Recife como no agreste pernambucano, todas de tempo integral, que é adotado em uma parcela importante das unidades escolares no estado.
Em todas, a aprendizagem vem em primeiro lugar, com Idebs muito acima da média nacional. Uma delas, em Orobó, cidade do agreste, com 90% dos alunos de zona rural, orgulha-se de ser a escola estadual com maior proficiência em matemática e de ter um Ideb de 5,2 (a média nacional é de 3,8).
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Mas as escolas me impressionaram também pela qualidade de seu trabalho em dimensões não medidas pelo índice, como música, curtas-metragens produzidas por alunos, domínio de outros idiomas ou robótica.
A ênfase em protagonismo juvenil e nos sonhos dos jovens estudantes deixaria o saudoso Antonio Carlos Gomes da Costa, educador mineiro que concebeu esse modelo de escola, orgulhoso de sua façanha.
É importante entender os desafios que temos em educação, como o fato de que 52% dos brasileiros entre 25 e 64 anos não terem concluído o ensino médio, dado divulgado esta semana pela OCDE, no relatório “Um olhar sobre a educação”.
Não devemos, por outro lado, nos esquecermos dos avanços, mesmo em educação, que o Brasil vem apresentando, especialmente em nível subnacional.
Boas políticas e práticas vêm sendo adotadas em diferentes partes do país, com sucesso comprovado. Nesta edição do Saeb, o Ceará novamente contou com 80 das 100 melhores escolas de fundamental I, Sobral continua avançando, aliás como tem feito a cada edição da Prova Brasil —seu Ideb é de 9,1.
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Por que não percebemos estes progressos e achamos que o mundo só faz piorar? Segundo Hans Rosling, médico e estatístico sueco, em seu livro “Factfulness”, temos uma percepção distorcida do nosso tempo, que nos faz esquecer dos dissabores do passado e enfatizar os problemas persistentes.
Com isso, perdemos uma chance grande de nos inspirar em boas práticas e aprender com gestores brasileiros que vêm, ao longo dos anos, contribuindo para mudar a ainda desafiadora situação educacional do país.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 14/09/2018