O mundo recebeu uma boa notícia nesta semana com a divulgação do novo relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a economia global. O crescimento econômico atingirá, diz o FMI, 3,9% em 2018, acima das previsões anteriores e dos 3,8% de 2017. “Crescimento tão amplo e forte não é visto desde o início da recuperação da crise financeira de 2008-09”, afirma o relatório.
A origem do impulso econômico não está, com exceção da China, nos países emergentes, como costumava estar antes da crise. Ele se concentra na Zona do Euro, no Japão e nos Estados Unidos.
O FMI prevê um crescimento maior para o Brasil, de 2,3% em 2018 e 2,5% em 2019 (em outubro a previsão era, respectivamente, de 1,5% e 2%). Em parte, por causa da recuperação nos preços das commodities, que subiram16,9% entre agosto de 2017 e fevereiro deste ano.
Mesmo assim, o crescimento brasileiro fica aquém da média global prevista para os próximos anos, em torno de 3,7% – e muito aquém da previsão para os países emergentes, ao redor de 5%. Até 2023, o Brasil deverá, diz o FMI, crescer em média 2,2% ao ano.
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“As reformas não estão completas ainda”, afirmou a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, a respeito da situação brasileira. Não é nenhuma novidade a principal preocupação relativa ao Brasil: sem reformas, estaremos diante de um assustador abismo fiscal.
Os números divulgados pelo FMI em seu Monitor Fiscal estimam que a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB) ficou em 84% em 2017 (número superior ao divulgado do governo por divergência de critérios). Para o FMI, a relação chegará a 96,3% em 2023.
Para comparar, a média dos países emergentes foi de 49% em 2017 e deverá chegar a 57,6% em 2023. Na América Latina, 61,8% no ano passado; previsão de 68,4% em 2023. O dado brasileiro é comparável ao da Zona do Euro, onde o endividamento foi de 84,2% no ano passado, mas deverá cair a 71,7% em 2023. Até lá, deveremos quase tanto quanto as economias mais avançadas, cujas dívidas somarão em média 100,4% do PIB em 2023, diz o FMI.
Na análise dos indicadores estruturais que explicam o crescimento da dívida, destaca-se o gasto com a Previdência. Pelos dados do FMI, o Brasil é o segundo país do mundo com maior crescimento projetado nas despesas previdenciárias entre 2015 e 2050: 5,1% do PIB (5,9% até 2030). Se tivéssemos de pagar tudo hoje, o total equivaleria a 203,8% do PIB. Só o Kuwait está em situação pior.
É sobretudo em função do desequilíbrio nas contas da Previdência que o nosso déficit estrutural anual subirá dos 3,6% do PIB, registrados entre 2000 e 2007, para 7,6%, entre 2018 e 2023. Nesse quesito, apenas a Venezuela, cuja economia está em derretimento, nos supera.
Isso significa, basicamente, que a sociedade brasileira precisa trabalhar mais e produzir mais para arcar com dívidas de país avançado e gastos previdenciários de país avançado (mais de 13% do PIB, patamar comparável a França, Itália, Grécia ou Portugal antes da reforma).
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Duas medidas são urgentes para evitar que a economia entre em colapso nos próximos anos por causa da dívida. A primeira é reequilibrar as contas públicas, com reforma na Previdência, privatizações e o enxugamento do Estado, de modo a retomar os superávits primários. Como o governo, o FMI prevê que o país só volte ao azul em 2022.
A segunda é uma ampla rodada de abertura comercial, que permita ganhos substanciais de produtividade e torne nossas empresas mais competitivas no mercado global. “Reduzir barreiras tarifárias e não-tarifárias ao comércio ajudará a melhorar a eficiência e aumentará a produtividade”, diz o relatório do FMI, “Ampliar o programa de concessões de infra-estrutura a investidores ajudaria a atrair capital privado para compensar deficiências.”
Qualquer candidato à Presidência cujo programa não envolver reformas (em especial, da Previdência), privatizações e abertura comercial estará a vender ilusões. O povo brasileiro já cansou delas. Não pode perder mais tempo com palermas analfabetos em economia.
Fonte: “G1”, 20/04/2018