Na era industrial, foi preciso educar o ser humano a aprender atividades repetitivas com a máxima eficiência possível. Para atingir tal finalidade, foram criadas instituições públicas e privadas destinadas a gerar um trabalhador de lógica mecânica, sujeito a padrões determinados e locais fixos. Nasce, então, a escola, um lugar no qual as crianças vão desde cedo, passando a maior parte do seu dia entre habilidades que serão oportunamente avaliadas por um critério de provas escritas. No longo da curva, as universidades ganham o flanco com a aquisição de um conhecimento mais elaborado, em alguma área do saber científico.
Encerrado o ciclo educacional, a vida profissional dá seus primeiros passos. Aqui, ao invés da escola, o trabalhador vai para a fábrica ou escritório, mantendo a rotina internalizada de passar grande parte do seu dia fora de casa, prendendo sua atenção em algo produtivo. Os mais capazes, além de galgar posições em hierarquias verticais, recebem maiores recompensas pelo desempenho realizado. Com o passar dos anos, a idade começa a pesar, a produtividade cai e a aposentadoria surge como um justo e merecido fim. Eis a síntese do modelo de desenvolvimento humano do século XX.
A realidade atual, todavia, é radicalmente transformadora. O impressionante desenvolvimento tecnológico – especialmente com a criação de sofisticados instrumentos de inteligência artificial (A.I.) – trará um impacto brutal nas tradicionais formas de trabalho humano. Regra geral, toda atividade passível de padronização será jogada para dentro de fórmulas matemáticas precisas e minudentes, capazes de gerar respostas muito mais rápidas do que as subjetivas equações mentais. Nessas atividades padronizáveis, não haverá competição com a máquina, pois a velocidade computacional de processamento dos dados é infinitamente maior que a artesanal lógica humana. O jogo está jogado; resta juntar os cacos.
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Conforme estudo divulgado recentemente pelo World Economic Forum, 65% das crianças que estão ingressando no ensino primário atuarão em novos tipos de trabalho, os quais – frisa-se – sequer existem atualmente. Ou seja, estamos enfrentando uma autêntica revolução nas potencialidades laborais do ser humano. O futuro privilegiará os desideratos da razão pensante, da avaliação crítica, da análise reflexiva e as habilidades sociais como a empatia, a persuasão, a inteligência emocional e a capacidade de comunicação.
Por meio do alto impacto disseminado da tecnologia, teremos a inevitável ruptura com práticas de trabalho monótonas e rotineiras, liberando a mentalidade criativa para saltos de produtividade e geração de novos negócios. De tudo, sobressalta a certeza de que precisamos falar, urgentemente, da educação de nossas crianças e impor um profundo retreinamento funcional de nossa população economicamente ativa, à luz de uma ampla e séria política pública de reprogramação intelectual.
Uma nova fronteira de compreensão está em vias de impulsionar um novo homem, mais conectado a si e aos outros, com ampla mobilidade de trabalho, em uma atmosfera de ubíqua e instantânea capacidade de informação. Nesse contexto inovador, o diagnóstico é claro e determinado: a escola do ontem acabou. As atrasadas ideologias do passado também. Estamos diante de um renascer da intelectualidade humana. E não há nada mais desafiador ao espírito da razão do que a criação de novas formas de pensar.
Como bem aponta Jordan Peterson, se “o presente pode mudar o passado, o futuro pode mudar presente”. Estamos a viver uma era de mudanças aceleradas. O modelo anterior de estabilidade estática está sendo substituído por uma lógica de estabilidade dinâmica. É como andar de bicicleta: o equilíbrio está no movimento. Aqueles que optarem por ficar parados já estão condenados a um futuro bem pior que o presente. Não há tempo a perder. Até quando, então, ficaremos inertes, olhando o Brasil empobrecer nas mãos de corruptas lideranças atrasadas?
Fonte: “Gazeta do Povo”, 08/05/2018