São os 33 milhões de brasileiros que podem e querem trabalhar e não encontram trabalho. A principal razão é a definição de trabalho legal que levanta enorme muralha fiscal entre empregado e empregador e deixa 33 milhões de fora. Uma carteira assinada pelo salário mínimo custa ao empregador três vezes o que recebe o trabalhador. A consequência é que um salário mínimo custa para o empregador 115 % do PIB per capita do Brasil. No máximo, 50% nos países ricos.
Além dos encargos trabalhistas, existem outros impostos, como o transporte e outras contribuições trabalhistas e sindicais. Outro imposto enorme é o turnover. Contratar e descontratar no Brasil é outro salário mínimo, se o turnover da empresa for de 36 meses. Existe forte crença de que aumentar o custo do turnover protege o trabalhador. Engano cruel.
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O muro fiscal que barra 33 milhões de brasileiros que querem trabalhar é cruel porque barra as minorias, os mais jovens e os menos qualificados, todos já vítimas de estigmas culturais. Faz muito tempo que o Brasil não passa pela situação de ter a demanda por trabalho maior do que a oferta, como é comum em muitos países. Como nos EUA atual, onde quem defende tornar os ilegais legais são os empresários. Nova lei deve ser aprovada ainda em junho.
Os números no Brasil são patéticos: 33 milhões de carteiras assinadas, 93 milhões de pessoas ocupadas, e precisaríamos ter 125 milhões trabalhando. Temos 33 milhões de desempregados, desocupados e desalentados. Se eles trabalhassem, as possibilidades de proteger quem precisa e investir em fundamentos como educação e saúde seriam muito maiores. E as demandas sociais e o crime seriam menores.
Ter 60% da população trabalhando não é sonho num país adulto. Mas os 28 milhões que são empregadores (empreendedores, profissionais liberais e trabalhadores por conta própria) são forçados a saltar a muralha fiscal e, como mostra artigo recente de Gustavo Franco, são ignorados até pela Constituição. Apenas lembrados quando amarrados em algum pelourinho. Mas são eles que empregam 53 milhões de brasileiros, recolhem impostos para pagar políticos e 12 milhões de funcionários públicos e são os únicos que podem empregar os 33 milhões de desempregados e desalentados.
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O muro fiscal seria derrubado por uma reforma previdenciária e trabalhista que recolhesse 11% do que 125 milhões recebessem como salário (pagos compulsoriamente por aplicativo do sistema bancário), que criaria uma poupança anual previdenciária de 9% do PIB. Com 30 anos de trabalho e contribuição, um trabalhador de 60 anos poderia comprar um seguro que pagaria até a sua morte renda mensal maior do que receberia trabalhando. O trabalhador escolheria como e quando se aposentar. E com um salário mínimo por hora de 8 reais, o trabalhador levaria para casa 50% a mais do que leva hoje. Os impostos não seriam mais sobre o trabalho. Nem mesmo os necessários para complementar os que poupassem abaixo de um mínimo. Sistemas híbridos de previdência tendo o governo como segurador de última instância são comuns.
Com tais reformas, os desembolsos por trabalhador cairiam para menos da metade para os empregadores, com segurança trabalhista. E como o recolhimento para previdência individual não é um imposto, a poupança privada total e a carga fiscal do Brasil atingiriam níveis asiáticos (esta proposta para a previdência é de 1989. O ministro da época declarou: “esta é a primeira proposta com começo, meio e fim).
Fonte: “O Globo”, 13/06/2018