A escolha do novo ministro da Educação surpreendeu por representar uma via pouco provável: no meio a tantas pressões, o presidente Bolsonaro optou por dar a volta por cima. O ministro Abraham Weintraub conta com vários trunfos a seu favor: experiência gerencial, foi treinado para tomar decisões por critérios racionais, tem acesso ao poder e, sobretudo, conhece os recônditos mais obscuros do poder e dos mecanismos que levam ou não ao encaminhamento das propostas dos ministros.
De sua experiência anterior, é particularmente relevante seu conhecimento sobre a Previdência Social. Esse conhecimento permitirá ao MEC encarar com objetividade a inviabilidade do Plano Nacional de Educação (PNE), dadas as suas implicações financeiras. Também será crucial para orientar a revisão do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que deverá levar em conta suas implicações para a folha dos aposentados. E, quem sabe, conseguirá alertar o Ministério da Economia sobre as implicações da reforma da Previdência para a saúde financeira de estados e municípios.
O ministro Weintraub será pressionado a adotar a agenda do governo anterior – e precisará de uma enorme dose de sabedoria e prudência para diferenciar o que é prioritário para a agenda do MEC do que é urgente, à luz da antiga agenda. Se enveredar pela retórica de “trocar de pneu com o carro andando”, ele ficará com pneus novos e uma furreca enguiçada na mão.
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Embora surpreendente, a escolha do ministro tem sua lógica, e recai sobre alguém que optou por apoiar e ajudar as bandeiras defendidas pelo atual governo. Dentre elas, salienta-se o aceno para um país com um viés liberal, com menos Brasília. Menos Brasília, na educação, significa um MEC totalmente diferente, muito mais enxuto. Se essa agenda caminhar, o MEC também precisará de uma estrutura e um modus operandi dramaticamente diferentes dos atuais.
Ainda que o governo tenha tardado a enxergar a paralisia do MEC, o ministro que entra precisa e merece um período de trégua para compor sua equipe e dizer a que veio. O que ele não tem direito de fazer é cometer os mesmos erros de seu antecessor – o maior dos quais foi montar uma equipe cuja característica comum mais importante era o elevado nível de inexperiência associado à falta de preparo e de vontade para o diálogo.
Fonte: “Veja”, 08/04/2019