Há três argumentos rivais na ciência política sobre o comportamento eleitoral. O primeiro, conhecido como voto programático (“issue voting”), é que os eleitores avaliam as políticas defendidas pelos candidatos e escolhem aquele que apoia suas políticas preferidas. Os eleitores olham para a frente: votam no candidato que irá implementar o que julga ser o melhor programa.
Nessa abordagem convencional, os eleitores vão às urnas como se estivessem no supermercado: fazendo um check-list de medidas programáticas e candidatos, e escolhendo em quem votar. O eleitor examina o programa de —digamos, Marina Silva— e conclui, como um analista de mercado político: “ela é minha candidata”.
O segundo argumento é que o eleitor olha para trás: avalia o desempenho do candidato ou alguma característica individual sua, por exemplo, sua probidade. Conhecido no jargão como voto retrospectivo, esse argumento prevê que o eleitor pune ou premia desempenhos.
O terceiro argumento inverte o voto programático: o eleitor escolhe candidatos para depois adotar as políticas que defendem (o que é conhecido como “follow the leader”). O eleitor escolhe candidato ou candidata por razões que serão discutidas em outra coluna.
Em relação à descriminalização da posse de drogas, o eleitor tucano raciocina que “se é o FHC que está defendendo, deve ter uma boa razão”. Os eleitores escolhem Bolsonaro por ser “contra tudo que está aí” para depois examinar seu programa. Ou no caso dos eleitores de Lula, “se é o Lula que está propondo a reforma da Previdência”, ela deve fazer sentido.
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O argumento do voto retrospectivo foi muito difundido nos anos 1960, quando as pesquisas concluíram que o eleitor típico era desatento e tinha baixíssimo conhecimento sobre políticas. É um “ignorante racional” que utiliza toda a informação disponível para avaliar se seu bem-estar melhorou no passado recente, mesmo que o faça com vieses e utilizando “atalhos informacionais”.
O terceiro argumento é analisado em “Follow the leader? How Voters Respond to Politicians’ Policies and Performance” (“Siga o líder? Como Eleitores Respondem às Ações e ao Desempenho dos Políticos”), de Gabriel Lenz (Stanford University).
Contra a abordagem convencional, há conjunto robusto de análises experimentais e quantitativas que dá ampla sustentação empírica. Lenz sustenta que ele não é inconsistente com o voto retrospectivo.
Se esse argumento é verdadeiro, a campanha eleitoral não terá a função propalada de fazer o candidato expor propostas que serão avaliadas pelos eleitores. Programas não importarão: apenas a reputação e a confiança dos eleitores estarão em jogo.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 18/06/2018