Por Marcos Sawaya Jank e Mauricio Palma Nogueira
A aprovação em dezembro de um projeto de lei que proíbe o consumo de carnes às segundas-feiras nas escolas e órgãos públicos do Estado de São Paulo é mais uma infame agressão contra a pecuária e as carnes.
Nada temos contra pessoas que optam por não consumir carne, glúten, açúcar ou qualquer outro alimento. Ainda bem que a livre escolha prevalece no mundo moderno. Agora o Estado querer ditar hábitos de consumo, definindo o que pode ou não ser consumido a cada dia da semana, é uma arbitrariedade absurda e intolerável.
Na esteira dessa excrescência autoritária da Assembleia Legislativa de São Paulo, no último no dia 11 a administração do porto de Santos proibiu os embarques de animais em pé para a exportação, rubrica que trouxe US$ 280 milhões em divisas para o país em 2017.
O comércio de animais vivos vem crescendo 5% ao ano no mundo. Países importantes como Indonésia, Turquia, Vietnã e o Oriente Médio optam por importar animais para engorda e abate, pois isso gera renda para os seus pecuaristas e a indústria doméstica. O Brasil, detentor do maior rebanho bovino comercial do mundo, é o pais com maior potencial de crescimento na exportação de animais vivos. Nossos concorrentes são Austrália, Canadá e México. Não há razão plausível para essa proibição.
Leia mais de Marcos Sawaya Jank
O que esperar do agro em 2018 e além
Protecionismo à brasileira
O agronegócio não é o vilão que pintam por aí
É fundamental olhar em maior perspectiva o impacto da “segunda sem carne” e da proibição da exportação de gado em pé. O Brasil é líder e referência global na produção de carnes, posicionando-se entre os primeiros exportadores de carne de aves (1º lugar), bovina (2º) e suína (4º), além dos couros, genética e animais vivos. O setor como um todo exportou mais de US$ 18 bilhões em 2017.
É fato que o consumo per capita de carnes encontra-se estagnado nos países desenvolvidos. Os 40 países mais ricos do mundo abrigam um bilhão de pessoas que consomem cerca de 100 kg/habitante/ano, somando as três proteínas. Vem desses países a maior parte das campanhas pela diminuição do consumo de carnes e a favor do vegetarianismo em todas as suas formas.
Contudo, precisamos lembrar que cinco bilhões de pessoas vivem em países em desenvolvimento consumindo em média 30 kg/hab/ano. E um bilhão de pessoas vivem em países muito pobres, onde o consumo médio não chega a 10 kg/hab/ano. A conta é simples: a maioria da população mundial quer e precisa comer mais proteína animal, incluindo os pescados, e não cabe aos 20% mais ricos, que já ultrapassaram de longe as suas necessidades alimentares básicas, arbitrar sobre o que os demais vão colocar no seu prato todos os dias.
No agro brasileiro não há setor que sofra maior preconceito e desinformação do que a carne bovina. Os ataques deste último mês não são isolados. O repertório de mitos e inverdades é longo: danos à saúde, aquecimento global, desmatamento, consumo excessivo de água etc. Formadores de opinião acabam se deixando levar por informações levianas, facilmente refutáveis se acessarem sites especializados e a literatura científica. Voltaremos aos demais “pecados” em um próximo artigo.
Na conclusão desta coluna, soubemos que Geraldo Alckmin vetou a “segunda sem carne”. O governador está absolutamente correto.
Um dos nossos principais cartões de visita são os churrascos, adorados pela maioria dos brasileiros pela variedade, abundância e modo de preparo da carne. Não podemos deixar que irresponsáveis legislem contra o interesse da maioria, usando falsos argumentos que prejudicam a posição e a imagem que conquistamos no Brasil e no mundo.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 20/01/2018
No Comment! Be the first one.