“É difícil imaginar uma maneira mais perigosa de tomar decisões econômicas do que deixá-las nas mãos de pessoas que não pagarão o preço por estarem erradas.” – Thomas Sowell
Parece haver certo consenso no sentido de que a crise no setor de transporte rodoviário de cargas é resultado da política voluntarista e atabalhoada do Governo Dilma, que jogou uma montanha de dinheiro público (via BNDES) em subsídios ao setor caminhoneiro, o qual, por sua vez, investiu no aumento da frota à luz de sinais de preço e lucro completamente distorcidos. Uma crise, aliás, que os bons analistas previram muito antes da eclosão da recente greve que paralisou o país.
A insatisfação dos caminhoneiros, enganados pelo populismo demagogo do Governo Dilma, gerou novas demandas por intervenções estatais, devidamente satisfeitas pelo governo da hora – através dos famigerados tabelamentos de fretes e do congelamento arbitrário dos preços do diesel. Essas novas intervenções, por seu turno, acabarão gerando novas distorções no mercado, as quais demandarão novas intervenções e assim por diante, transformando a espiral intervencionista quase num motor perpétuo.
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Como escrevi em outro lugar, governos populistas acreditam cegamente no modelo intervencionista, em que o Estado, além de regulador, aparece como “indutor da atividade econômica”, planejando e escolhendo as áreas e setores que devem ser privilegiados. Estão convictos de que esta é a fórmula do desenvolvimento, da geração de riquezas e, principalmente, de empregos.
O problema é que na base da ciência econômica está a escassez, pois os recursos são limitados, enquanto as demandas são ilimitadas. Desta verdade deriva outra: se não podemos ter tudo o que queremos ou precisamos, somos forçados, constantemente, a fazer escolhas (trade-offs), nem sempre fáceis.
Numa economia de mercado, a demanda dos consumidores e os custos dos produtores desempenham um papel importantíssimo, que é o de ditar onde os recursos escassos devem ser aplicados da maneira mais eficiente, vele dizer: de forma que produzam maior satisfação ao consumidor e maior lucro ao produtor/comerciante.
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Embora os bons economistas saibam disso há tempos, muitos ainda acreditam que a cobrança de impostos, o endividamento público, a inflação (emissão de moeda) e os gastos governamentais podem substituir a velha lei da oferta e da demanda, além de tornar ilimitados recursos que são, por natureza, limitados. Os economistas do governo parecem desconhecer que o propósito da produção é atender a demanda dos consumidores. Acham que o objetivo central da economia é a criação de empregos. Pouco lhes importa o que, quanto ou a qual custo se vai produzir. A única coisa que interessa são as estatísticas de emprego a curto prazo.
Esta visão míope e estrábica, no entanto, tem efeitos nefastos mais adiante. A intervenção governamental desvirtua o consumo de capital, não considera o uso alternativo dos recursos e, como disse Bastiat, os “efeitos invisíveis” do desvio desses recursos. Em resumo, ignora totalmente os custos de oportunidade, que só podem ser determinados pelo mercado, desde que operando livremente.
O mau investimento, portanto, é um investimento em negócios equivocados, o que inevitavelmente leva ao desperdício de capital e perdas econômicas. “Equivocado” no sentido aqui utilizado significa incorreto do ponto de vista das reais necessidades e demandas de médio e longo prazo da economia. Erros de cálculo aleatórios e isolados ocorrem em qualquer mercado (resultando em falências e prejuízos nos negócios), mas erros de investimento simultâneos e generalizados só ocorrem quando há uma grave distorção no sistema de preços livres.
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Os preços são um canal essencial de informação através do qual os participantes do mercado comunicam suas demandas e fazem com que recursos sejam alocados para satisfazer adequadamente essas demandas. Ao distorcer, confundir ou induzir a erro os investidores e os participantes do mercado, o governo fará com que o mau investimento seja o resultado inevitável.
Infelizmente, quem acaba pagando o preço não são aqueles que provocaram o problema.
Fonte: “Instituto Liberal”, 11/06/2018