Na semana passada, estive em Londres para fazer uma palestra e aproveitei para visitar o British Museum, um dos meus favoritos. Ninguém consegue ficar insensível frente a um registro tão completo do que a arqueologia e a ciência nos permitiram conhecer sobre a história da humanidade.
Passa-se rapidamente da raiva em saber que tesouros foram extraídos dos povos que os geraram ao entusiasmo face a tanta beleza produzida por mãos de humanos que nos precederam.
Lembro-me da primeira vez que visitei aos 19 anos, com minha avó, o museu. O guarda quase teve que nos pôr para fora, no horário de fechamento. Além da contemplação de objetos e esculturas de tantas civilizações diferentes, chamava minha atenção à época que boa parte deles aparecia em fotografias do livro de história em que estudara na escola “História Geral”, de Armando Souto Maior.
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Saudosismos à parte, a última ida a esse fantástico museu trouxe também uma reflexão sobre a experiência acumulada pelo Homo sapiens ao transformar a natureza e produzir cultura. Quantos impérios foram criados e destruídos, quantos aprendizados sobre o mundo e as pessoas que ora eram vistas como rivais ou inimigos, ora como colaboradores, quantos mitos originários e narrativas que celebravam raças ou povos que se pretendiam superiores para depois se descobrir tão humanos quanto os demais!
Ao chegar ao Brasil, no Dia Internacional de Lembrança das Vítimas do Holocausto, que marca em 2020, o 75º aniversário da liberação de Auschwitz-Birkenau, o maior campo de extermínio nazista, as lições do museu ficaram ainda mais claras, inclusive frente aos sofrimentos que minha própria família viveu, na Hungria e na Romênia, no período.
Os que nos precederam passaram por experiências históricas que, aprendidas as lições que delas emanam, permitem aos que vieram depois não repetir erros já cometidos.
Nunca foi tão urgente aprender e ensinar história, tanto para celebrar heróis, entendendo-os em sua dimensão humana e, portanto, limitada e imperfeita, quanto para nos motivar a aperfeiçoar aquilo que a humanidade já construiu de belo, embora a partir de visões por vezes xenófobas e excludentes.
Devemos aos nossos antepassados, que como a ciência mostra com riqueza de evidências, são mais próximos entre eles do que as narrativas ultranacionalistas nos querem fazer crer, a correção do mal que sofreram ou infligiram sobre outros. É nesse contexto que o recente pedido de perdão de líderes como Mark Rutte, da Holanda, ou Stoltenberg, da Noruega, ganham especial sentido.
Afinal, compartilhamos todos a mesma condição humana.
Fonte: “Folha de São Paulo”, 31/1/2020