As dimensões em torno das quais se estrutura o conflito político são cruciais na política. William Riker (1920-1993), um dos pioneiros da teoria dos jogos na ciência política, denominou seu uso estratégico de “heresthetics”. Ele ilumina aspectos importantes da eleição presidencial, que, no momento em que escrevo, aponta para um segundo turno.
A dimensão que vertebrou a disputa política nos últimos 20 anos foi a inclusão social. Mas o petrolão e a Lava Jato alteraram profundamente esse estado de coisas. A escolha sobre quem promoveria melhor a inclusão deu lugar a uma nova disputa em torno de quem pode combater a corrupção e “tudo o que está aí”.
O PT e o PSDB foram os grandes perdedores dessa revolução na estrutura do jogo. Em um primeiro momento, o PT resistiu ao deslocamento do eixo da disputa, desqualificando a Lava Jato e chamando a atenção para o desemprego que gerava, não notando a centralidade que o tema da corrupção assumira.
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O PSDB apostou na nova dimensão, mas seu discurso acabou conflitando com o desdobramento da Lava Jato sobre o partido. Isso permitiu a um outsider —Bolsonaro— afirmar-se como o beneficiário inconteste da mudança ocorrida.
Bolsonaro também inseria-se na disputa de uma forma inédita: rechaçando as formas identitárias de inclusão social com base em raça, gênero e minorias. Mobilizando a crise da segurança, conquistou setores conservadores da sociedade. Tais questões eclipsaram na agenda pública as questões macroeconômicas e de inclusão. E como todo populista iliberal seu discurso é marcado por autenticidade.
O PT renasceu das cinzas quando Bolsonaro disparou nas primeiras pesquisas presidenciais: a relação é simbiótica. E foi favorecido pelo apelo mediático de Lula na cadeia e pela estagnação da economia.
Na campanha presidencial escondeu Dilma e com isso ajudou a ocultar Temer. O slogan “Fora, Temer” parecia dirigir-se a um fantasma político, fora do jogo, e a eleição tornou-se assim um plebiscito entre a mudança (Bolsonaro) e o statu quo (os anos do PT).
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O PT reagiu deslocando o eixo da disputa política introduzindo uma nova dimensão: o eixo democracia-autoritarismo. O “democrata corrupto” opõe-se agora ao “probo autoritário”. A “ameaça fascista” garante assim competitividade à candidatura Haddad.
No entanto, esse movimento tem tido efetividade muito limitada devido, inter alia, à sua posição em relação à Venezuela e ambivalência em relação ao jogo institucional.
Com um passivo gigantesco que inclui elogios à tortura, seu rival tampouco tem credibilidade e buscará jogar o jogo na dimensão da probidade e na rejeição a “tudo o que está aí”.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 08/10/2018