Os piratas deveriam estar fora de moda. Afinal, faz 300 anos que tiveram seu apogeu, navegando nas águas do Caribe, saqueando os galeões espanhóis carregados de ouro em sua viagem para a Europa. Atualmente, estão reduzidos a personagens de filme, em aventuras de todos os tipos, com todos os grandes piratas nos papéis principais, invariavelmente vencendo os espanhóis e mesmo os ingleses, com cujas cartas de corso se lançavam ao mar atrás de tesouros e fortuna fácil.
Os piratas deveriam estar fora de moda, mas não estão, especialmente nas águas do Caribe, onde a deterioração da situação venezuelana fez com que os seus ataques aumentassem mais de 160% nos últimos anos.
Piratas não são novidade no mundo moderno. Sempre estiveram por aí, atuando mais intensamente em determinadas áreas dos oceanos, como a costa da Somália e as águas do Golfo das Filipinas.
Para quem imagina que o Brasil não tem piratas, vale lembrar o assassinato do velejador da Nova Zelândia, Peter Blake, em 2001, quando estava ancorado na costa do Amapá, por piratas brasileiros que roubaram apenas um relógio e um motor de popa, mas nem por isso deixaram o grande navegante vivo.
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Mas não é apenas em locais ermos que os piratas atuam, tanto no Caribe, como no Brasil. Sua ação muitas vezes acontece dentro de portos como o de Santos, o maior porto da América Latina, onde os piratas agem com bastante sucesso, atacando os navios atracados, faz muitos anos.
Recentemente, uma quadrilha de traficantes de drogas simulou um ataque pirata contra um navio no porto de Santos para embarcar, com destino à Europa, mais de uma tonelada de cocaína, disfarçada em dois contêineres. No caso, o plano falhou e eles foram presos e a droga, descoberta. Mas a simulação do ataque é suficiente para mostrar que eles são comuns e o grau de sucesso dos bandidos incentiva esse tipo de ação.
Na maioria das vezes, os piratas dos portos brasileiros não matam as tripulações, o que não quer dizer que isso não aconteça – tanto faz se o alvo é um navio, uma lancha, um veleiro ou um pesqueiro.
Vários anos atrás, um primo foi vítima de um ataque desses enquanto dormia em seu veleiro ancorado na boca do Canal de Bertioga. Não foi uma experiência agradável e ele e seu marinheiro acabaram presos no banheiro, enquanto os piratas levavam o que queriam, sem ninguém para impedi-los.
Os navios com rotas internacionais evidentemente têm seguro para ataques de piratas. Eles acontecem frequentemente na costa da África, onde os piratas somalis se tornaram famosos ao ponto das grandes potências manterem belonaves de guerra navegando na região para persegui-los, assustá-los e assegurar a livre navegação, principalmente de navios de carga que cruzam aqueles mares.
Acontecem no Golfo das Filipinas, no Mar da China e em dezenas de portos espalhados pelos países do mundo, nos quais a ação de piratas faz parte da rotina. A cobertura não é automática, mas as companhias de navegação e os armadores sabem que essas ações podem custar caro, além de colocar em perigo a vida das tripulações.
Mas este quadro muda radicalmente quando se fala das lanchas e veleiros particulares e dos barcos de pesca da frota brasileira. A maioria deles não tem qualquer tipo de seguro, imagine um seguro com garantia para ataques de piratas.
Apesar dos ataques serem cada vez mais comuns e terem se espalhado por praticamente toda a nossa costa, com quadrilhas especializadas e bandidos sem nenhuma prática atacando as embarcações, o brasileiro continua firme na sua toada de não contratar seguro, ainda que sabendo dos riscos que corre, dos valores envolvidos e até da possibilidade de perder a própria vida.
“Seguro para quê? Isso não acontece de verdade. É conversa de beira de cais ou sede de iate clube.” Até que o ataque acontece. No mundo real, além do roubo de valores e equipamentos, a ação pode terminar com um barco caro batendo nas pedras porque os piratas, além de atacá-lo, cortam o cabo da âncora na hora em que deixam a embarcação.
Se você tem barco, pense nisso e fale com um corretor.
A maioria dos barcos no País não tem qualquer tipo de seguro; imagine um com garantia para ataques piratas
Fonte: “Estadão”, 27/08/2018