De acordo com um estudo da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil é campeão mundial em agressão contra docentes dentro de escolas. É um dado apavorante, que tem duas vertentes a serem analisadas: a primeira, o impacto que essas agressões têm no nível do ensino ministrado pelas escolas onde elas acontecem; e, a segunda, o impacto que elas têm no recrudescimento da violência, especialmente em razão do baixo nível escolar e profissional do brasileiro, que condena milhares de jovens, por não terem emprego, a cair nas malhas do crime organizado, ativa ou passivamente.
A violência na escola, ainda mais contra professores, escancara em seu nível mais singelo o esgarçamento da malha moral, que impediria, a priori, ações violentas, e da malha legal, que coibiria essas ações através de medidas socioeducativas impostas aos seus autores.
No nível mais singelo da malha social encontra-se a família, de onde deveriam partir as noções mais simples do que se pode e do que não se pode fazer, do certo e do errado, do mérito e da punição.
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Todavia, nos dias de hoje se vê cada vez menos, na sociedade brasileira, a ação da família, quer como polo de educação, quer como porto seguro para os jovens que, justamente pela omissão dos responsáveis, acabam se mirando em exemplos distorcidos, nos quais os “bad boys” aparecem como os heróis da história.
É bom, é legal ser mau, ser cruel, maltratar os mais fracos, se juntar em bando para atacar os mais fracos, sem outra razão a não ser a maldade para criar medo e assim assumir algum protagonismo dentro do grupo.
As escolas se converteram em locais inseguros, aonde os alunos vão com medo do que pode acontecer e onde acontecem violências de todas as naturezas, sem que os professores possam fazer algo para minimizá-las, exceto se preocuparem consigo mesmos, já que também são vítimas de agressões físicas e morais das mais variadas ordens de gravidade.
O que a televisão tem mostrado em filmes feitos com celulares é um porcentual ínfimo do que realmente acontece. A violência em certas escolas é brutal. Não se resume a pequenas cenas de bullying. Há casos comprovados de agressões sexuais, surras, verdadeiras torturas, sem que ninguém tenha a coragem de intervir em favor das vítimas porque todos sabem que, se o fizerem, podem ser os próximos a serem atacados.
A explicação para os mais de 60 mil homicídios anuais, que nos colocam mais uma vez no pódio da vergonha, passa pelo que acontece nas escolas, em complemento à violência que nasce nos lares malformados e na brutalidade que é parte do cotidiano dos alunos. Uma escola onde a realidade vai na contramão dos preceitos morais e legais que embasam uma sociedade não pode gerar nada, exceto mais violência. E é a isso que nós assistimos impotentes: o crescimento da violência nas mais variadas situações, desde uma infração de trânsito até um estupro, um assassinato ou qualquer outra forma brutal de comportamento social.
O setor de seguros tem como missão precípua a proteção da sociedade. Ou seja, o setor de seguros é umas das maiores vítimas do quadro que começa nas escolas brasileiras e se alastra como fogo em coivara por todos os meandros da população.
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Atualmente, não há lugar seguro no país. Em todas as partes, a violência está presente no simples fato de se ter medo do que possa acontecer. O medo de assalto, estupro ou qualquer outro tipo de agressão predispõe a medidas defensivas mais ou menos violentas e o resultado é um ato comum, como tirar o celular do bolso, ser entendido como uma ameaça e desencadear respostas agressivas, muitas delas fatais.
A consequência direta da violência que começa no lar e se banaliza na escola é o encarecimento ou o desaparecimento de determinados seguros. Como exemplos disso, atualmente, é praticamente impossível se conseguir seguro para roubo de joias, as seguradoras fogem dos riscos de transporte de valores em mãos de portadores e os seguros de transporte de carga são aceitos apenas por um pequeno número de companhias.
Fonte: “Estadão”, 01/06/2019