Estamos diante de um momento ímpar e inédito para o setor de óleo e gás (O&G) brasileiro. A consolidação da exploração e da produção no pré-sal pode colocar o País diante de uma oportunidade histórica para a redenção da economia brasileira. Nos últimos anos os EUA, a partir da descoberta e da viabilização das reservas de shale, mudaram não só o cenário econômico do país, mas também a geopolítica global do mercado de óleo e gás.
A disparada do preço do petróleo, em 2011, foi determinante para impulsionar o shale gas/oil americano, que tinha um alto custo para exploração. O resultado foi um aumento de mais de 60% na produção de petróleo dos EUA em apenas cinco anos, entre 2009 e 2014, quando o país superou Rússia e Arábia Saudita e passou a ser o maior produtor do mundo. Com a queda brusca no preço do petróleo, entre 2014 e 2016, muitas empresas faliram por não conseguir reduzir os custos de exploração, levando a uma consolidação do mercado. Nesse período, investimentos em pesquisa e desenvolvimento foram feitos e a indústria americana precisou se adaptar para sobreviver, reduzindo o custo de exploração/produção do shale.
O protagonismo assumido pelos EUA influenciou todo o mercado, pois sua produção passou a ser capaz de compensar parcialmente as reduções acordadas entre os países-membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), muitas vezes com participação da Rússia, que visam ao aumento da cotação internacional do petróleo. Com isso, a influência da organização ficou limitada e os EUA passaram a ser uma ameaça ao já consolidado market share dos principais exportadores.
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Além de mudar a dinâmica do mercado de petróleo, o shale americano transformou o país no maior produtor mundial de gás natural em 2011. Por ter uma malha de gasodutos altamente desenvolvida, com quase 5 milhões de km de extensão, o setor foi capaz de expandir o mercado nacional e dar vazão à crescente oferta. O gás natural substituiu o carvão, na geração elétrica, no setor industrial e no setor de transportes, este sob forma de Gás Natural Liquefeito (GNL), como combustível para caminhões, ônibus, navios e trens. A maior disponibilidade de gás natural também trouxe de volta o crescimento do setor petroquímico americano, que passou a ter competitividade e segurança no abastecimento.
O crescimento do setor de O&G atraiu grandes investimentos, como os US$ 20 bilhões divulgados pela Exxon em 2018, destinados a instalações no Golfo do México. O montante, que será distribuído pelos próximos dez anos, envolve a expansão de diversas indústrias, desde refinarias até fábricas de lubrificantes e plantas de GNL. A empresa estima mais de 45 mil novos postos de emprego.
Se aprendermos com a experiência americana, o pré-sal no Brasil pode ser uma grande oportunidade para a sociedade brasileira sair da crise econômica e social enfrentada nos últimos anos e entrar num ciclo virtuoso. Para isso, é preciso ter senso de urgência e acelerar mudanças regulatórias e jurídicas que incentivem investimentos na exploração, produção e infraestrutura de óleo e gás. Ao mesmo tempo, criar mercados capazes de absorver o aumento da produção, como investimentos em refino e novos mercados consumidores de gás natural.
Os investimentos privados vão mudar o perfil das refinarias brasileiras. Isso porque o óleo do pré-sal e as exigências ambientais levarão a uma maior produção de nafta, trazendo maior competitividade para a indústria petroquímica. Por sua vez, o gás natural vai ser mais consumido na geração de eletricidade; na indústria, no comércio e nas residências; e como combustível para o setor de transportes.
Estima-se que a produção brasileira possa atingir um patamar superior a 5 milhões de barris/dia nos próximos dez anos, quase o dobro do registrado em 2018. Deste total, o pré-sal poderá representar mais de 80%. Não vejo no horizonte dos próximos 20 anos nenhum setor da economia que possa aumentar arrecadação, gerar empregos e atrair investimentos como o de óleo e gás. Não podemos nem devemos perder essa oportunidade.
Fonte: “Estadão”, 12/01/2019