A recente divulgação, por parte do IBGE, das Contas Nacionais Trimestrais e dos dados da Pnad Contínua, permitiu o cálculo do indicador trimestral de produtividade do trabalho do IBRE/FGV.[1] Os indicadores de atividade do primeiro trimestre de 2019 apontaram para uma lenta recuperação do nível de atividade econômica, com crescimento do valor adicionado de apenas 0,5% em relação ao primeiro trimestre do ano passado, e queda de 0,2% em relação ao quarto trimestre de 2018, o que teve efeito negativo sobre o crescimento da produtividade do trabalho.[2] A Tabela 1 mostra a evolução da taxa de crescimento, acumulada em 4 trimestres, da produtividade por hora trabalhada do agregado da economia e dos três grandes setores (agropecuária, indústria e serviços).
Os números mostram que, no primeiro trimestre de 2019, a produtividade por hora trabalhada agregada, acumulada em 4 trimestres, apresentou queda de 0,3%. Esta redução foi ainda mais forte que a observada no quarto trimestre de 2018 (-0,1%).
Esta piora na taxa de crescimento da produtividade por hora trabalhada também foi observada na indústria e no setor de serviços. Enquanto na indústria a taxa de crescimento da produtividade recuou de 1,4% no quarto trimestre de 2018 para 0,6% no primeiro trimestre de 2019, no setor de serviços a queda se intensificou de 0,7% para 0,8%. Já na agropecuária foi observada uma pequena melhora na taxa de crescimento da produtividade, subindo de 1% para 1,5%.
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Podemos também observar que o setor de serviços tem sido o responsável pela queda da produtividade agregada. Enquanto a agropecuária e a indústria tiveram taxas positivas de crescimento desde o terceiro trimestre de 2016 (indústria) e primeiro trimestre de 2017 (agropecuária), o setor de serviços apresenta taxas negativas de crescimento desde o terceiro trimestre de 2014. Como este setor concentra cerca de 70% das horas trabalhadas, seu comportamento é determinante para a evolução da produtividade agregada.
Outra forma de se analisar a dinâmica da produtividade é através do crescimento interanual da série. Neste caso, analisa-se a taxa de crescimento de um determinado trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior. Os resultados desta análise, para o agregado da economia, podem ser encontrados no Gráfico 1. Podemos notar que a produtividade agregada apresentou queda de 1,1% no primeiro trimestre de 2019, em comparação com o primeiro trimestre de 2018. Este resultado é o pior desde o primeiro trimestre de 2016, quando a produtividade do trabalho havia recuado 2,2%.
Por trás do comportamento da produtividade agregada, existe grande heterogeneidade na trajetória das produtividades setoriais. O Gráfico 2 mostra o comportamento da taxa de crescimento da produtividade por horas trabalhadas, em relação ao mesmo período do ano anterior, para os três grandes setores da economia: agropecuária, indústria e serviços.
A piora na taxa de crescimento da produtividade por hora trabalhada no primeiro trimestre de 2019, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, foi disseminada entre os três grandes setores da economia. Na agropecuária, por exemplo, a taxa de crescimento da produtividade por hora trabalhada caiu de 2,8% no último trimestre de 2018 para apenas 0,4% no primeiro trimestre de 2019.
A queda de 1,2% da produtividade da indústria interrompeu uma sequência de doze trimestres consecutivos de alta neste setor. A produtividade da indústria já havia dado sinais de que estava perdendo fôlego desde o início de 2018, dado que a sua taxa de crescimento havia diminuído de 2% no primeiro trimestre de 2018 para 0,9% no quarto trimestre.[4]
No setor de serviços, o resultado do primeiro trimestre de 2019 mostrou uma intensificação na piora da produtividade do setor. Após uma queda de 0,8% no quarto trimestre de 2018, a produtividade por hora trabalhada apresentou redução de 1,2% no primeiro trimestre de 2019, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Analisando seu desempenho desde 2014, podemos observar que, com o resultado do primeiro trimestre, o setor de serviços acumula o vigésimo trimestre consecutivo de queda da produtividade por hora trabalhada.[5]
Diante da perda de fôlego da recuperação da economia e das sucessivas revisões para baixo no crescimento do PIB, é possível que vejamos, caso não haja uma melhora no cenário econômico, uma intensificação na piora da produtividade por hora trabalhada nos próximos trimestres.
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[1] As medidas de produtividade agregada e setoriais foram construídas dividindo-se o valor adicionado obtido das Contas Nacionais Trimestrais pelo número de horas trabalhadas em todas as ocupações, obtido da PNAD Contínua.
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[2] O valor adicionado refere-se ao valor que as atividades agregam aos bens e serviços consumidos no seu processo produtivo. É a contribuição ao Produto Interno Bruto (PIB) pelas diversas atividades econômicas que compõem esta atividade, obtida pela diferença entre o valor bruto da produção e o consumo intermediário absorvido por essas atividades. Já o PIB refere-se ao total de bens e serviços finais produzidos pelas unidades produtoras residentes destinados ao consumo final sendo, portanto, equivalente à soma dos valores adicionados pelas diversas atividades econômicas acrescida dos impostos, líquidos de subsídios, sobre produtos.
[3] Os valores do quarto trimestre de cada ano correspondem às taxas de crescimento anuais. As taxas de crescimento da produtividade apresentaram uma leve mudança em relação às divulgadas na última nota, devido à atualização dos microdados da Pnad Contínua a fim de incorporar a nova estrutura de ponderação de acordo com a projeção populacional de 2018. Sendo assim, para o ano de 2018, o crescimento da produtividade agregada foi revisto de 0% para uma queda de 0,1%.
[4] Nos dois principais subsetores da indústria, indústria de transformação e construção civil, a produtividade do trabalho no primeiro trimestre de 2019, em relação ao mesmo trimestre de 2018, apresentou queda de 2,3% e 1,5%, respectivamente.
[5] Dentro do agregado do setor de serviços, o comércio, transportes e outros serviços apresentaram queda de produtividade de 0,2%; 4,9% e 1,3% respectivamente.
Fonte: “Blog do IBRE”, 17/06/2019