No embate das ideias, a eleição brasileira tem similaridades com a da Alemanha de 1949. Foi um enfrentamento feroz entre socialistas e sociais democratas (SPD) de um lado e os Liberal Democratas (CDU) do outro. O socialismo estava seu no auge intelectual e real, não era o da moribunda estirpe bolivariana.
Os liberais ganharam e Konrad Adenauer se tornou o chanceler. Seu ministro da Economia Ludwig Erhard, veio da Comissão Bizonal. Existe vasto material sobre a experiencia impressionante desses dois políticos que ficaram no poder por 21 anos. Relevante é o livro “The economics of sucess” que reúne 95 artigos e discursos de Erhard (de 1945 a 1963).
A coragem cívica de Erhard foi enorme. Alertou que a Alemanha não seria terra para os fracos de coração. Defendia ideias impensáveis para a época: “A real contradição é entre a economia de mercado na qual todos os preços se ajustam e uma economia autoritária, onde o comando de Estado se estende a preços e distribuição e reduz empresários a marionetes”. Em 1948 afirmava que “apenas quando o direito de expressão se encontrar com o direito de consumir, teremos um povo livre.”
Erhard dava profundo valor à competição. Argumentava em 1949: “Somente a competição aumentará o padrão de vida das pessoas.” Tinha consciência que quem paga impostos são os consumidores e não os empresários, que apenas recolhem impostos. E que trabalhadores e consumidores são as mesmas pessoas. A destruição criativa da competição traria “prosperidade para todos”, o lema do partido CDU.
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No Congresso do CDU, em 1947, discursou: “Os socialistas nos atacam de forma impiedosa, profetizando a falência de nossas políticas. Mas não existe nada mais falso do que pregar que o interesse do povo, do trabalhador, do comerciante é protegido pelo Estado e nada mais cínico que afirmar que tudo que pertence ao Estado, pertence ao povo”.
Aconteceu em 1951 um dos debates com o professor Nolting, do SPD. Em um auditório com cinco mil pessoas que vaiavam e aplaudiam, o professor acusou a política do SDU de caótica e que ameaçava a democracia. E que a Alemanha se tornara “o paraíso dos ricos e o inferno dos pobres”. Erhard rebateu com números. A produção já era 134% sobre o pico de 1936 e os salários dos alemães eram os que mais tinham crescido na Europa.
Discursando em Paris em 1954: “Seria um erro a cooperação franco-alemã ser um arranjo de proteção mútua”. Continuou Erhard: “O mundo fala em milagre, mas o que acontece na Alemanha não é milagre. É o esforço honesto de um povo ao qual foi dada a oportunidade de usar sua iniciativa e liberdade. Se o exemplo alemão tem valor é para mostrar os benefícios da liberdade.”
A liberdade no Brasil sempre foi perneta, desde o Império. Bastante liberdade pessoal e pouca liberdade econômica. Mas para os liberais democratas, as liberdades são indivisíveis. Espera-se que Bolsonaro se prove um liberal democrata.
No livro “Histórias inspiradoras de coragem, caráter e convicção” Erhard é um dos personagens. Iremos precisar de líderes com estes três “Cs” para sair de nossa pobreza auto-infligida.