Um mísero por cento foi o crescimento da economia brasileira em 2017, graças ao farto desempenho da indústria agropecuária. De resto, quando vista a economia pelo lado da produção, nada mais aconteceu no ano passado. Os serviços e a indústria ficaram parados, embora ambos tenham apresentado pálidos sinais positivos no último trimestre do ano. A taxa de poupança da economia brasileira não alcançou sequer os 15%, enquanto a taxa de investimento manteve-se no risível patamar de 15,6% — uma anomalia mesmo na conturbada América Latina, excluindo-se, é claro, a Venezuela. Do lado da demanda, o consumo das famílias aumentou como o PIB – um por cento – ainda que tenha havido algum ganho real dos salários com a queda expressiva da inflação. O investimento encolheu mais uma vez, com variação negativa de quase 2%. O setor externo não ajudou, nem atrapalhou.
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Enfatizam as manchetes que o Brasil saiu da recessão, o que é verdade. Mas, nenhum país permanece em recessão para sempre – fosse assim, sumiria do mapa. O que o PIB de 2017 revela é que saímos da recessão porque temos uma capacidade extraordinária no setor agrícola, apesar de todas as nossas mazelas de competitividade e infraestrutura. Restou para as políticas do governo Temer o papel de não atrapalhar a recuperação cíclica que naturalmente resulta de qualquer ciclo recessivo, sobretudo quando este é tão profundo e prolongado. Mas, as políticas do governo Temer pouco fizeram para aliviar os graves problemas que teremos pela frente. A economia brasileira terá de continuar a caminhar para a frente carregando parrudo gorila fiscal nas costas. Se o peso do gorila não frear a continuação da retomada esse ano, difícil é imaginar que não o fará em 2019, quando a agenda interrompida de Temer terá urgência maior do que tem hoje.
Em 2015, a antecessora de Temer saudou a mandioca, e afirmou que estávamos “comungando a mandioca com o milho”. Passados dois anos e meio ainda não sei bem o que isso significa, mas sei que nesse momento cabe uma saudação especial ao milho, cuja produção cresceu 55% em 2017. E não nos esqueçamos da soja e da laranja.
Fonte: “Estadão”, 02/03/2018