Vivemos um tempo de profundas e radicais transformações político-sociais. Os modelos do passado não servem mais ao hoje. As velhas respostas dizem nada aos pulsantes questionamentos do futuro. As estruturas tradicionais de poder são onerosas e pouco responsivas. Precisamos, portanto, recriar o ideal da democracia, propondo arranjos políticos inovadores. A hora, ao invés de divisões, exige a união da sociedade brasileira em torno de um projeto de nação moderno e virtuoso.
A democracia sofre perigosos refluxos mundo afora. Na abalizada opinião de Larry Diamond, vivemos uma fase de recessão democrática (“democratic recession”). Tal fato está intimamente ligado à falta de resultados eficazes da ação política concreta. Sabidamente, aquilo que não funciona bem tende a se tornar descartável. Ou seja, um dos grandes desafios contemporâneos é resolver a flagrante ineficiência das disfuncionais estruturas de governo.
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O caminho do futuro está traçado: injetar tecnologia nos processos políticos. É inadmissível que em um tempo de progressiva inteligência artificial tenhamos estruturas burocráticas fechadas e hierarquizadas, comprometendo a pronta resolução da máquina pública brasileira. O modelo de administração pública do futuro será necessariamente mais enxuto, de baixo custo e instantaneamente responsivo. A tecnologia é a antítese da burocracia. Assim como a luz elétrica aposentou os lampiões, a onda tecnológica varrerá os burocratas.
O aspecto prático do desenvolvimento tecnológico é justamente a capacidade de se fazer mais com menos. Dessa forma, é inadiável cortar radicalmente o cipoal de ministérios, secretarias, agências disto e daquilo com seus festivos cabides de emprego. Se o processo de inchaço estatal beneficia alguns, no longo da curva prejudica a todos. O colapso estrutural brasileiro – insegurança latejante, educação sucateada e saúde pública anêmica – é o resultado de décadas de transferências forçadas de recursos de infraestrutura para o pagamento do funcionalismo, previdência e assistência social.
Não podemos mais negar a realidade: o velho modelo de dependência estatal está falido. Se o século passado foi marcado por um forte protagonismo do Estado, o modelo econômico do amanhã é focado na força criadora do indivíduo e no triunfo definitivo da inteligência humana. O que temos que ensinar a nossas crianças é uma cultura de transcendência, de exponencial uso da criatividade e de decidida assunção da responsabilidade pelas decisões pessoais. Ao invés de vínculos subalternos de trabalho, temos de promover a liberdade empreendedora para que cada criança seja a sua própria startup.
O assunto aqui é serio; precisamos falar urgentemente de educação e de reabilitação funcional da população economicamente ativa. Mas não espere isso dos políticos atuais; eles só pensam neles. E o interesse deles está longe de ser o bem do Brasil e dos brasileiros. Quem, então, falará por nós?