Ao menos 43% dos consumidores brasileiros escolhem a loja onde vão comprar a partir das promoções que cada uma delas oferece. Além disso, 46% trocaram de mercado nos últimos seis meses.
As informações são de um estudo inédito feito pela Nielsen sobre a lealdade dos clientes no ambiente de consumo atual. Previsivelmente, a redução de preço é o principal fator citado por 50% dos entrevistados para experimentar ou trocar de marcas ou produtos.
Eis aqui um pequeno segredo do capitalismo: consumidores, não corporações, comandam o sistema. Sim, os consumidores gananciosos, cruéis, impiedosos e desleais.
Não acredita? Converse com os ex-executivos da Kodak, que faliram porque insistiram nos velhos filmes de rolo e desprezaram a nova tecnologia digital, desenvolvida pelos seus próprios técnicos. Visite o International Supermarket Museum em Nova York e conheça os 60.000 produtos que “micaram” nos supermercados dos EUA, um testemunho convincente do que os economistas chamam de “soberania do consumidor”.
Na semana passada, uma fábrica da Honda em Campinas foi multada pelo Ministério do Trabalho em 66 milhões porque, segundo os ficais, aumentou a produtividade à custa da “negligência à saúde de empregados e assédio organizacional” (sic).
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Deixando de lado o ridículo daquela multa, o que faz com que uma fábrica busque cada vez mais aumentar a sua produtividade e a qualidade dos seus produtos?
Ganância! Gritarão os ungidos.
Ora, tentar tornar mais eficiente o negócio em que você investiu seu tempo e dinheiro é algo ganancioso? E o que é que os desejos insatisfeitos dos clientes representam em tudo isso? Quem é realmente o ganancioso aqui?
Parece claro que, em uma economia de mercado, são os consumidores, e não as empresas, que tomam as decisões importantes. Quando escolhem onde gastar seu dinheiro, os consumidores decidem quais produtos, negócios e indústrias sobrevivem – e quais vão embora. Portanto, são os consumidores que, indiretamente, tomam as decisões de contratação e demissão, não as empresas. Afinal, as empresas não podem ganhar dinheiro, contratar pessoas e pagar impostos, a menos que vendam seus produtos.
A palavra “ganância” tem vários significados. Pode ser apenas o desejo intenso de possuir algo, mas pode também significar o culto obsessivo que muitas vezes se transforma em ações que prejudicam outras pessoas.
De fato, desejar ter muito dinheiro não é em si uma coisa ruim, se você sinceramente trabalha para isso, negociando livremente com os outros ou assumindo riscos e criando empregos e riquezas. Porém, se você deseja tanto a riqueza a ponto de querer roubá-la – ou contratar um funcionário público para fazê-lo em seu nome -, então você é definitivamente uma pessoa gananciosa.
Portanto, há uma diferença fundamental entre a ganância destrutiva e o saudável interesse próprio, intrínseco à natureza humana. Sim, nós nascemos com isso, graças a Deus! Cuidar de si mesmo e daqueles a quem você ama é o que faz o mundo funcionar. “Não é à benevolência do padeiro, do açougueiro e do cervejeiro que devemos agradecer as nossas refeições, mas ao cuidado deles com os próprios negócios”, ensinou Adam Smith há muito tempo.
O que diferencia o saudável interesse próprio da destrutiva ganância é a forma como o sentimento se manifesta e para onde ele é canalizado – e isso tem tudo a ver com coerção e liberdade.
Como nos lembra o grande Lawrence W. Reed, a visão progressista sobre a “ganância” humana ser um problema grave nos negócios, misteriosamente some quando se trata do governo. Exatamente quando o interesse próprio de um político evapora e sua compaixão altruísta entra em ação? Isso acontece na noite das eleições, no dia em que ele assume o cargo ou depois de ter tido a chance de realmente conhecer as pessoas que transitam pelas rodas do governo? Quando ele percebe o poder que possui, isso o torna mais ou menos propenso ao interesse próprio?
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Se você é uma pessoa honesta, rapidamente percebe que, para satisfazer o interesse pessoal num mercado livre, você precisa produzir, criar, negociar, investir e empregar. Enfim, você precisa fornecer bens ou serviços que clientes dispostos (e não cativos contribuintes) optarão por comprar. Em resumo, no livre mercado sua “ganância” é direcionada para a produção de bens e serviços que melhorem a vida de outras pessoas.
Por outro lado, não há nada no governo que torne seus agentes menos gananciosos do que o indivíduo comum atuando em instituições privadas. Ao contrário, há todas as razões para acreditar que adicionar poder político ao interesse próprio natural é uma receita infalível para ampliar o dano que a ganância pode causar. Afinal, enquanto as transações no mercado são voluntárias e livres, o governo precisa usar a força para “vender” seus serviços – e a mistura de ganância com poder de coerção será sempre mais perigosa do que a mistura de ganância com liberdade de escolha.