Já estamos em meados de agosto e as indefinições em torno do cenário eleitoral continuam a predominar. Mas um dado é evidente: a imensa desconfiança do eleitor em relação à política, aos políticos e às eleições. Nenhum resultado do próximo pleito conseguirá apagar o sentimento de desconfiança em relação à política. Apenas um desempenho mais do que extraordinário de algum candidato poderia levar a população a voltar a confiar na política.
São diversos os fatores que dificultam essa retomada, a começar pela sucessão de escândalos na política nacional que justificam o repúdio geral. Como todos sabemos, os próprios políticos são os primeiros a desmoralizar a política. Mas não é só isso. Outro fator essencial nesse processo é a desconstrução da política. Os motivos para criticar a política são muitos, porém, destruir a política por inteiro leva a uma postura de iconoclastia generalizada. E, de certa forma, a imprensa tem sido o veículo dessa destruição.
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Nossa iconoclastia nos leva, por exemplo, a querer destruir doentiamente certas personalidades e certas instituições em um processo desinstitucionalizante que tem um fundo gramsciano. E, por falar em Gramsci, analisemos a atitude de nossa intelectualidade: majoritariamente de esquerda, alimenta a desconfiança como parte de um projeto de poder e não de reflexão. Assim, a desmoralização institucional faz parte de um software que é rodado por muitos sem que se saiba qual a sua meta. O fim da democracia? Um regime autoritário? Um regime libertário? A estatização de tudo?
A academia é outro vetor de destruição da confiança. Escanteada das decisões e dependente do Estado, oscila entre uma relação corporativista e um distanciamento da sociedade. Atua de forma periférica no momento de uma série de crises deflagradas pelas investigações da Operação Lava Jato.
Somos dependentes do Estado e, por isso, nossa relação com ele não é de igualdade. É uma relação subalterna frente a um ente mais poderoso que tem interesses próprios e pode ajudar ou atrapalhar nosso destino. Não é uma relação adequada aos princípios da democracia, até porque, por ser baseada em dependência, não existe sinceridade de ambas as partes e impera a desconfiança no que o poderoso Estado poderá ou não fazer. Nesse sentido, a desconfiança predominará, não importa quem seja eleito presidente em outubro, já que destruir uma relação de confiança é fácil e rápido. Reconstruí-la, porém, leva anos. Às vezes décadas.
Fonte: “Época”, 10/08/2018